Os mais recentes acontecimentos mostram que o futebol português viveria muito melhor sem a esmagadora maioria dos dirigentes que nele (e dele) vivem. O que se passou depois dos apitos finais do derby da Luz e do clássico do Norte volta a demonstrar que muitos destes homens andam a aqui a mais.
Começo pelos incidentes no Estádio do Dragão, que correm o risco de passar desapercebidos, não só pelo barulho das chamas da Luz, mas também por não serem propriamente uma novidade. Um jornalista foi insultado pelo presidente Jorge Nuno Pinto da Costa e agredido, mais do que uma vez, por dirigentes e seguranças do FC Porto. Por quanto mais tempo continuará a ser permitida esta vergonha? Até quando vão ser permitidas estas ações de intimidação contra quem tem a missão de informar livremente? E para quando uma condenação veemente destes atos, em vez do silêncio cúmplice de quem se encolhe, por medo ou por desejo de manter os “exclusivos”?
Se o que se passou no Dragão parecia tirado de um filme de gangsters, o que se viveu na Luz pareceu mais um filme de terror. Não houve capangas a bater em ninguém, mas assistiu-se à atitude irresponsável de dirigentes que parecem gostar (literalmente, neste caso) de brincar com o fogo.
Comecemos pela famosa “caixa de segurança”, a zona das bancadas do Estádio da Luz que o Benfica decidiu dotar de redes de proteção para ali colocar os adeptos das equipas adversárias. O que há para dizer, logo à partida, sobre este tipo de instalações é que a sua existência é, por si só, uma vergonha. Porque todos gostaríamos seguramente mais de um futebol sem barreiras, sem violência, sem very lights ou petardos e sem necessidade de batalhões de polícia a acompanhar grupos perigosos organizados.
Mas não é esse o mundo em que vivemos. Neste, infelizmente, são necessárias, estas e outras caixas de segurança. Como, aliás, ficou demonstrado pelos incidentes que acabaram por registar-se no Estádio da Luz. Quando há energúmenos capazes de incendiar bancadas ainda repletas de gente e agredir bombeiros que tentam apagar as chamas, talvez se chegue à conclusão que ainda há muito para fazer em termos de segurança nos recintos desportivos.
Pode discutir-se a oportunidade da entrada em funcionamento da nova bancada da Luz. Pode perguntar-se porquê agora e não no início da época. Mas parece evidente que, em termos de segurança, para quem visita e para quem é visitado, a estrutura dá mais garantias. Sobretudo comparando com o que se passava no passado, com as claques adversárias a ficarem “entaladas” num espaço mais exíguo, bem próximo de uma das claques da equipa da casa.
Seriam estes os aspetos que os dirigentes de ambos os clubes deveriam ter valorizado antes e depois do jogo. Mas o que aconteceu com a atitude da cúpula dirigente do Sporting, que preferiu recusar os convites do Benfica, para se juntar aos adeptos na “jaula” (como lhe chamaram) serviu para tudo menos para acalmar os ânimos mais exaltados. O mesmo se pode dizer das declarações inflamadas do vice-presidente Paulo Pereira Cristóvão, logo após o jogo, que contrastavam com a forma cordial e desportiva como o treinador Domingos Paciência e o diretor Carlos Freitas comentaram o que passara no derby.
A resposta do Benfica foi, assinale-se, igualmente infeliz. A soberba do diretor de comunicação João Gabriel foi desnecessária. O próprio Luís Filipe Vieira, que começou desvalorizar a situação, acabou a ameaçar com corte de relações. E recebeu como resposta de Godinho Lopes a acusação de que teria sido, ele próprio, responsável por atos graves na zona dos balneários da Luz após o jogo.
Depois de um grande jogo de futebol, emocionante, jogado com entrega e lealdade pelas duas equipas, que tinha tudo para ser uma excelente propaganda da modalidade, o que estes senhores conseguiram foi demonstrar, uma vez mais, que não estão à altura das responsabilidades que têm. Não passam de pirómanos da bola, prontos a pegar fogo à atividade que lhes dá de comer. Tenham vergonha!