Antigamente era o inverno. Hoje em dia são depressões, têm nome de gente e vêm acompanhadas por uns repentes que podem deixar-nos sem nada (e a alguns mesmo sem vida) em questão de segundos. Não, o que mudou não foi apenas o uso dos termos com que classificamos o inverno; o clima está extremado e não apenas o político.
Só que a política do “deixa chover”, como se não tivéssemos mão nas alterações climáticas, está enraizada. Sempre foi assim com as questões ambientais. Primeiro porque era uma coisa dos futuros, entregue às gerações vindouras (e, de repente, faltam quatro anos para 2030, ano que define uma importante meta na redução das emissões de gases com efeito de estufa; e faltam 24 anos para 2050, a data almejada para a “neutralidade climática”).
Depois, quando as alterações climáticas começaram a manifestar-se sem sombra para negações já neste tempo de vida dos mais velhos, passou a ser um combate dos jovens. Ao menos eles! Esta semana decorre a greve climática estudantil, pelo fim ao fóssil até 2030. De novo, quatro anos que parecem impossíveis.
Finalmente, a conversa ambiental parece demasiado técnica para o entendedor comum que, em vez de tentar entendê-la no seu mais básico, remete-se a fazer a “sua parte”, reciclando. Mas não reduzindo, porque esta era das escapadinhas de fim de semana em low cost ou da roupa barata e descartável, do desperdício de comida que apodrece nos frigoríficos a abarrotar ou da dependência do automóvel privado está tão solidificada que parece um ato de heroísmo ir contra a maré.
Na verdade, não basta cada um fazer a sua parte no dia a dia; a luta, colocada ao nível da responsabilidade dos consumidores, fica sempre aquém do que o planeta pede. A questão é governamental e a “guerra”, como bem lhe chamou Maria da Graça Carvalho, ministra do Ambiente e Energia, trava-se contra um sistema poderosíssimo chamado “maximização dos lucros sem olhar a meios para atingir os fins”.
Depois das negociações mais técnicas, a COP30, conferência das Nações Unidas sobre as mudanças climáticas, que decorre até sexta-feira, 21, no Brasil, entrou na fase decisiva dos comprometimentos políticos. E logo no início da semana, pesos-pesados como o Japão e a China colocaram-se em desacordo com o financiamento (quem paga a crise climática?), um dos pontos-chave da conferência.
Outro dos pontos quentes é sobre os territórios de onde se extraem os minerais que sustentam a chamada energia limpa, como o lítio, o cobre ou o níquel. Porque o ambiente é também uma grande oportunidade de negócio, os países ricos nesses minerais não querem “ficar com o ónus e perder o bónus”, como bem coloca um artigo do jornal brasileiro O Globo.
As conversas que podem mudar alguma coisa nestas conferências giram sempre em torno de dinheiro. Os passos de tartaruga que são efetivamente dados contrastam com os discursos, mesmo vindos de responsáveis políticos. “Evitar as inundações, evitar erosão costeira, evitar catástrofes naturais, segurança contra os grandes incêndios é segurança nacional”, sublinhou Maria da Graça Carvalho.
Mas dois idosos mortos, em Fernão Ferro, pelas inundações, a mulher que morreu e os 28 feridos devido ao tornado em Albufeira, são vistos apenas como vítimas da depressão Cláudia. A culpa é dela. É inverno. Assobia e deixa chover.