O consumo de álcool é elevado na Europa, sendo que cerca de 79% dos estudantes em idade escolar já experimentaram bebidas alcoólicas, 47% fazem-no com regularidade e 35% de forma exagerada, apanhando as famosas bebedeiras. Os dados mais recentes são de 2019 do relatório ESPAD (European School Survey Project on Alcohol and Other Drugs), um estudo sobre os comportamentos dependentes entre jovens.
Os adolescentes bebem porque o consumo de álcool faz parte da socialização e facilita a aceitabilidade pelos pares. Apesar de estar apenas legalizado o consumo de álcool em Portugal acima dos 18 anos, os adolescentes frequentam festas e festivais onde o acesso ao álcool é fácil e nos quais beber faz parte do momento.
Um jovem que não bebe é muitas vezes a exceção do grupo, acabando com frequência por ceder à pressão dos pares ou do ambiente que o rodeia.
A adolescência é uma fase de autodescoberta e de procura de identidade. É uma idade da qual fazem parte comportamentos de exploração, que podem levar ao consumo de substâncias, como o álcool. É também uma fase de afirmação e desafio da autoridade dos pais. Por esse motivo, pode ser muito difícil para os pais lidarem com os filhos nessa altura.
Se, do ponto de vista psicológico, é uma fase de muitas mudanças, também do ponto de vista biológico é uma fase de grande maturação cerebral, em que o cérebro, ainda em desenvolvimento, pode ser profundamente afetado pelas substâncias tóxicas. Por este motivo, o álcool apresenta um risco acrescido nos jovens.
As consequências agudas do consumo de álcool são bem conhecidas: alterações ao nível da perceção e do estado de consciência, com comprometimento da capacidade de juízo, alterações do comportamento, descoordenação motora e labilidade emocional, sendo que os sintomas agravam-se com a quantidade de álcool ingerida, podendo levar a perda de consciência e coma, nos casos mais graves.
Além disso, o consumo de álcool está muitas vezes associado a outros consumos e a comportamentos de risco, o que se traduz numa ameaça acrescida para a saúde.
A longo prazo, o consumo prolongado de álcool, mesmo que de forma esporádica, pode comprometer o normal desenvolvimento cerebral e as funções cognitivas, conduzir a distúrbios psiquiátricos e comprometer o funcionamento do fígado e de outros órgãos vitais.
O que podemos fazer para diminuir o consumo de álcool nos jovens? Como em todos os temas relacionados com a adolescência, deve ser promovido um diálogo aberto com os jovens. Não se devem focar apenas os aspetos negativos do consumo do álcool, mas devem ser explicados os riscos e as consequências para a saúde.
O problema não está no consumo de álcool, que de forma moderada na idade adulta é um hábito que pode ser integrado num estilo de vida saudável. O problema está na banalização do consumo excessivo de álcool e no seu consumo em idade precoce, em que há mais riscos associados.
Neste sentido, penso que não são apenas os jovens que precisam de mudar comportamentos, mas somos nós, enquanto sociedade, que temos de dar o exemplo de um estilo de vida saudável e feliz, sem necessidade de consumos exagerados.
Artigo publicado originalmente na VISÃO Saúde nº 30 de Junho / Julho 2023
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