Passou, a cinco de maio, o términus oficial da pandemia de Covid-19, determinado pela Organização Mundial da Saúde (OMS). O primeiro aniversário desta efeméride, em 2024, coincide com o Dia da Mãe. É uma feliz coincidência e uma oportunidade para evocar a vida e a saúde, e como cuidamos de ambas.
Depois do ataque massivo do SARS-CoV-2 durante a pandemia de Covid-19, enfrentamos agora o perigo da amnésia em massa. Nada que a humanidade não tenha visto já. Em 1918 e 1919, a Gripe Espanhola assolou o mundo à escala global. Foi devastadora. Morreu cerca de 2% da população mundial. Foi rápido: praticamente sem oposição, o vírus não demorou a infetar quase toda a humanidade.
Como foi possível termos esquecido tal tragédia a ponto de nem termos assinalado o seu centenário em 2018? Este esquecimento intriga historiadores e cientistas. A melhor explicação é que os horrores das guerras mundiais que precederam e que se sucederam à epidemia substituíram, na memória coletiva, os horrores da pandemia. Uma vez esquecido o perigo, a pandemia seguinte causou estupefação.
Em 2022, a história começou a repetir-se. À pandemia sucedeu o regresso da guerra à Europa e o despoletar de um conflito muito preocupante no Médio Oriente. A atenção começou a divergir, outro quotidiano se instala e a memória da pandemia desvanece. O risco do esquecimento é o risco da impreparação para a próxima pandemia e a falta de prontidão na resposta, assim que ela eclodir.
O esforço científico de preparação e prontidão para a próxima pandemia está em curso, mas corre o risco de se desvanecer com a dissipação da memória. É preciso continuar a investir em medicamentos antivirais e antibacterianos de largo espectro, potencialmente capazes de inativar vírus e bactérias futuros, métodos mais rápidos e eficazes de desenvolver melhores medicamentos biológicos, e testes de segurança e eficácia mais expeditos para medicamentos e vacinas. É este o caminho, que só se faz se, obviamente, não nos esquecermos por que caminhamos.
Curiosamente, não é só a amnésia coletiva da Gripe 1918 que intriga historiadores e cientistas: porque se chama, em todo o mundo, Espanhola a esta gripe se não começou em Espanha? Pouco importa a memória dos lugares e como os lembramos. Pouco importa se nos recordaremos da Covid-19 como uma “Covid Chinesa”. A próxima pandemia pode começar entre nós. Não nos esqueçamos. Estejamos preparados. E prontos.