As luzes começam a brilhar, e as cortinas sobem, a revelar os figurinos, a música e os bailarinos. Enquanto tons de Tchaikovski estão a preencher o ar, o palco tornou-se vivo com o pas de deux, o dueto entre um homem e uma mulher. O bailarino levanta a bailarina, e ela flutua e desce como uma pena delicada.
Este papel de homem e mulher na dança está estranhamente destacado nas nossas cabeças. São sempre os bailarinos que saltam e giram e fazem movimentos fortes e grossos, e as bailarinas são todas graciosas e fazem alongamentos e dançam nas pontas do pé.
“Ballet is woman”, diz o famoso coreógrafo do século XX, George Balanchine. É verdade, desde o início do ballet no século XVIII, a dança clássica girava sempre em torno das mulheres. Numa aula de ballet, é muito mais comum ter bailarinas femininas em comparação com homens, de acordo com a revista Forbes, a proporção entre meninas e rapazes no ballet já vai ultrapassar 20-1.
Hoje em dia, a questão da fluidez de género na dança está a evoluir. As mulheres estão a treinar cada vez mais dinamicamente, e conseguem fazer saltos grandes e poderosos que foram sempre associados aos homens, e os homens também conseguem fazer movimentos graciosos e ter extensões de pernas altas como as mulheres.
A desigualdade de género não se restringe apenas às aulas de ballet, aos palcos, ou à indústria das artes performativas. Infelizmente, em muitas profissões nas quais as mulheres são predominantes, são os homens que geralmente detêm o poder
No entanto, apesar dessas mudanças, ainda há uma disparidade de género em papéis de liderança na dança. A maioria dos grandes diretores e coreógrafos são homens, ou seja, os que têm poder são homens. De acordo com o DDP (Dance Data Project), 72% dos diretores artísticos das companhias de dança no mundo são homens. Além disso, é indiscutível que os homens diretores também ganham muito mais do que as mulheres.
A desigualdade de género não se restringe apenas às aulas de ballet, aos palcos, ou à indústria das artes performativas. Infelizmente, em muitas profissões nas quais as mulheres são predominantes, são os homens que geralmente detêm o poder. Um exemplo proeminente é na educação, na qual a maioria dos professores são mulheres. No entanto, quando olhamos para o painel dos diretores, é possível contar o número de mulheres com os dedos de uma mão.
Ao ser uma jovem mulher na sociedade de hoje, é difícil perceber que mesmo seja no século XXI, ainda existem diferenças significativas nos salários e poderes atribuídos a homens e mulheres. Essa desigualdade persistente não apenas afeta o presente, mas também molda as expetativas das crianças e influencia as escolhas de carreira deles com base nas normas sociais preestabelecidas.
Como os papéis tradicionais associados aos estereótipos de género já são expostos às crianças desde tenra idade, é muito mais provável que eles escolham uma carreira que seja mais vantajosa de acordo com o que a sociedade diz e espera deles.
Além disso, em muitas culturas, os rapazes são mais valorizados. Em países onde existem conflitos, as meninas são 2,5 vezes mais vulneráveis de serem retiradas da escola, isto tem como consequência o casamento infantil, trabalho infantil e violência baseada no género. Devido à pandemia, os riscos que jovens mulheres enfrentam em todo o mundo subiram em números inimagináveis.
Para enfrentar os desafios das desigualdades de género, é necessário criar mais oportunidades para meninas e mulheres na educação. Assim, elas podem entrar na sociedade com facilidade e escolher a carreira que lhes apetece. Além disso, é importante dar uma plataforma para que as mulheres tenham acesso aos papéis de liderança, já que é raro ter vozes femininas na área de política e economia: é crucial ouvir as opiniões delas para enfrentar crises sociais. Por outro lado, a violência e agressão sexual contra as mulheres têm de ser abolidos. É crítico que os governos prestem mais atenção às leis que protegem meninas e mulheres, que são sempre desvalorizadas. Por último, mas não menos importante, é facilitar o acesso às instalações e a produtos de saúde menstrual para as meninas e mulheres. Em muitos países, estes produtos são difíceis de encontrar e as meninas são forçadas a ficar fora da escola só por causa de estar com a menstruação. Estes preconceitos contra o sexo feminino têm de ser abolidos, e pensar nisto é tão importante como a crise ambiental.
A igualdade de género não é só um direito humano fundamental, mas também uma ferramenta crucial para criar um mundo mais pacífico, e um futuro mais sustentável. Meninos e meninas, homens e mulheres, todos eles merecem ter direitos, oportunidades e uma sensação de segurança igual.
É questionável se conseguimos ver melhorias num prazo curto, visto que a pandemia realmente reverteu muito do trabalho feito por organizações como a ONU, mas temos de ter otimismo e dar um passo para frente. Devemos continuar a lutar contra as normas do género e inspirar novas gerações a ter as suas próprias vozes, assim conseguimos criar um futuro melhor.
Os textos nesta secção refletem a opinião pessoal dos autores. Não representam a VISÃO nem espelham o seu posicionamento editorial.