Muitas vezes encaramos o início de um novo ano como um momento de reflexão, análise e paragem. Serve para recarregar baterias, mas também serve para olhar para o que fizemos e para o que queremos fazer. Obviamente que a data é simbólica, para todos os efeitos poderia ser em maio ou outubro essa reflexão, mas o facto de ser um momento de pausa coletiva com uma ligação maior à família, em que o telefone e o e-mail abrandam, permite também a auto avaliação, vermos o que se passou à nossa volta e antecipar o que aí vem. E estes têm sido, sem qualquer dúvida, anos de intensa atividade no nosso setor, com poucos momentos de pausa e consequentemente pouco espaço para respirar.
Tudo sugere que o ano de 2020 vai ser um bom ano para o setor da construção, levando a reboque a área dos projetos, com muita reabilitação ainda a decorrer e empreendimentos a serem lançados um pouco por todo o país, com as construtoras sem mãos a medir para as solicitações que têm.
Quantas vezes neste último semestre vimos os orçamentos de obra dos nossos clientes demorarem a chegar ou a resposta ser: “só a partir do 2º trimestre de 2020 conseguiremos dar preço”. O que por um lado demonstra o dinamismo do setor da construção, por outro também demonstra que há uma escassez de oferta no mercado imobiliário.
A par disso há falta de mão de obra nas empresas de construção, cujo crescimento é cauteloso após os trambolhões passados, ainda muito presentes na memória de todos. Crescer de forma sustentada é o que todos procuramos, mas aumentar o número de colaboradores em Portugal significa aumentar muitíssimo a carga fiscal e fazendo contas, rapidamente se conclui que só com muita ginástica se consegue crescer de forma sustentada.
Por isso 2020 é um ano de consolidação, onde se pede que o Estado ande de braços dados com a área da construção, dinamizando os impostos e permitindo uma maior flexibilidade na contratação – um longo caminho se adivinha para que tal se concretize – mas será um dos passos mais relevantes para que possamos gerar uma dinâmica correta no mercado.
É agora o momento para as empresas do setor crescerem para conseguirem dar resposta ao que parece ser uma realidade que veio para ficar. Creio que a nossa maior dificuldade para esse crescimento se prende quase sempre com a máxima portuguesa de vermos a vida de uma forma extremamente cautelosa, sendo que o típico “vai-se andando…” é o melhor exemplo disso, um certo conformismo, sem que faça realmente algo para que se mudar seja o que for… mas quem, como nós, está interligado de forma próxima ao sector imobiliário, tem mesmo que estar muito atento a todos os sinais de possível quebra no mercado. Por isso mudança e crescimento sim, mas de um modo estruturado.
Uma das maiores preocupações para este ano é a falta de mãos para a construção, faltam carpinteiros, serralheiros e afins – a procura é bem maior que a oferta neste momento e isso levou ao inevitável aumento do preço da mão de obra, e consequentemente temos visto um escalar do preço, com €/m2 na construção a subir a olhos vistos, algo que por vezes inviabiliza certos investimentos e também não ajuda a que as casas cheguem ao mercado com preços acessíveis.
Em 2019, a conversa rondou quase sempre em torno de “as casas estão caras por causa dos estrangeiros” e “não há mão-de-obra suficiente para a quantidade de obras que temos em curso”. Este ano todas as gruas que vemos no skyline dos principais centros urbanos virão ajudar a colmatar a escassez de oferta e serão decisivos para equilibrar os preços no mercado imobiliário, algo que irá gerar um bem-vindo número de novas habitações, para as quais existe procura.
Mas será com certeza um ano de consolidação para o mercado imobiliário, onde os principais players do mercado apontam para uma desaceleração na subida de preços. E com a tão esperada estabilização de preços está à vista, podemos apontar para o crescimento de um mercado sólido. Um mercado que nos permita a montante e jusante do momento da compra, uma atividade económica estável – algo que de facto todos almejamos pois isso permitirá criar a necessária evolução económica nas nossas famílias e vidas profissionais.
Acima de tudo deve reter-se o ímpeto que se gerou no setor da construção depois de anos muitos complicados… é um alívio ver zonas inteiras de cidades a serem recuperadas. Estão finalmente vivas, em benefício do comércio local e de todos nós. Neste contexto, a oferta de novos imóveis é mesmo necessária. Com os preços atuais levará mais tempo até ser absorvida pela procura, e, não sendo absorvida, acabará por levar à redução dos preços actuais… E assim se retomará o equilíbrio. Sem dramas e tudo a seu tempo.