Quando viu Matic sair do Benfica para o Chelsea, a meio da última época, Jorge Jesus desdramatizou: “O importante é jogar com onze. Se não joga o Matic, joga o Manel.” Mais do que um dos soundbites do treinador do Benfica, a frase explica tudo o que deve ser uma equipa de futebol e muito do foi a chave do êxito do Benfica: ninguém ganha sozinho e nenhuma equipa pode estar dependente de um só jogador. Mesmo que ele seja o Melhor do Mundo.
Longe de mim vir aqui defender que Portugal devia prescindir de Cristiano Ronaldo. Só um louco o faria. O que digo é que, sendo ou não o Melhor do Mundo, ele deve ser, na Seleção Nacional, apenas mais um… Manel. Não que eu considere que Ronaldo se comporte de forma a ser o centro das atenções ou a ter um estatuto parte, antes pelo contrário. Mas tem de haver da parte de quem comanda a seleção a preocupação de que, no seio da equipa, a mediatização em torno do CR7 não tenha expressão. E, mais do isso, que não seja um foco de problemas.
Situações como as que se repetiram no jogo contra a Alemanha não podem voltar a acontecer. Ver um jogador isolado em frente à baliza optar por não rematar para procurar Ronaldo é uma aberração. Jogadores que esquecem a dinâmica do jogo para ver sempre onde está Cristiano é a negação de um desporto que vive de ações coletivas. E ouvir um profissional que atua num dos maiores clubes do mundo dizer que acredita na qualificação da seleção porque “Ronaldo vai fazer uma das dele” é, no mínimo, confrangedor. Revela não só dependência, mas total desresponsabilização.
Cristiano Ronaldo é, obviamente, um jogador nuclear na seleção nacional. Os hat-tricks que marcou contra a Irlanda do Norte e contra Suécia (para falar apenas destes jogos) foram determinantes para Portugal estar presente no Mundial do Brasil. Mas foram conseguidos em jogos em que os restantes jogadores estiveram ao mais alto nível, assumindo, cada um, as suas responsabilidades. Recorde-se que, na partida contra a Irlanda do Norte, até a expulsão idiota de Postiga (Pepe não está sozinho neste tipo de comportamentos) foi suplantada pela ação dos que ficaram em campo. Só com uma equipa a jogar de forma coletiva e solidária é possível ver as individualidades aparecer e brilhar. O caso do Uruguai e Luiz Suárez é disso o maior exemplo.
Paulo Bento tem, neste tema, um papel fundamental. Como em ocasiões anteriores, terá de ser capaz de construir uma equipa forte, crente e em que cada um saiba o papel que tem para desempenhar e o faça com raça e vontade. Tem, no fundo, que escolher os onze Maneis em melhor forma, não olhando a nomes. Só assim, Portugal poderá vencer os Estados Unidos, o Gana e os que depois surgirem pela frente. E só assim os Maneis se transformarão em Cristianos, Moutinhos, Meireles e por aí fora. Caso contrário, também ninguém vai lembrar os seus nomes quando falar no Mundial do Brasil…