No dia de Camões, 10 de Junho, desde a Revolução dos Cravos sem se falar mais no dia da Raça, como antigamente, nem de Camões, apesar de ser o seu dia, o Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva, foi particularmente infeliz, como tem vindo a ser desde o início deste seu último mandato. Por várias razões. Não só por referir os “cidadões”, o que não foi a primeira vez que aconteceu, mas porque o discurso foi absolutamente nulo. Não só não referiu nenhum dos problemas que afetam a esmagadora maioria das portuguesas e dos portugueses – como se isso não interessasse nada – e falou da coesão nacional como se não houvesse uma questão social gravíssima, entre o Povo, os Sindicatos e a Classe Média, que está a desaparecer aos poucos, e o actual Governo, que o Presidente protege, apesar de estar a destruir Portugal.
O medo voltou a existir no nosso País, como a corrupção generalizada, e o Presidente da República, que não pode deixar de saber isso, também tem vindo a demonstrar, pelo seu silêncio, que tem medo de falar, por exemplo, na incapacidade da Justiça para meter na cadeia os corruptos.
Ocupou-se a referir o pós-Troika, como se ignorasse as mudanças que estão a ocorrer na Zona Euro. A própria chanceler Merkel começa a perceber que a atual política de austeridade imposta pela Alemanha está a ser fatal para ela própria, porque não há mais dinheiro, entre os Estados vítimas da austeridade, para pagar as exportações alemãs. Quem sabe o que serão as diferentes Troikas, daqui a nada menos do que uns meses, quanto mais a uns anos?…
Em comparação com o discurso de Cavaco Silva, em Elvas, e para além das vaias que se ouviram pela população local, contra o Presidente e o Primeiro-Ministro, o discurso do Presidente da Comissão Organizadora, Silva Peneda, teve princípio, meio e fim, e uma efetiva substância. Uma comparação que envergonha Cavaco Silva.
Por outro lado, um ponto do seu discurso foi a chamada de atenção para o desenvolvimento da agricultura. Quem o ouve e quem o ouviu. Não foi o primeiro-ministro Cavaco Silva que disse, quando começaram a vir, depois da nossa adesão à CEE, os primeiros apoios a Portugal, que, cito, “a Agricultura é para esquecer”? Como aliás as Pescas e a Marinha Mercante… Muitos portugueses se lembram disso.
O Presidente considera que no Governo Passos Coelho não se deve mexer porque, ao que diz, é legítimo. Saberá que o Governo está completamente paralisado há cerca de um mês? Perdeu completamente o rumo e não sabe o que fazer e por isso não comunica com ninguém e pela segunda vez os Orçamentos que apresentou foram chumbados pelo Tribunal Constitucional. E quanto ao Orçamento rectificativo, já alguém sabe em que consiste?
Senhor Presidente Cavaco Silva, lembra-se das vaias de que foi vítima – com o Primeiro-Ministro – e do número de polícias portugueses ser enorme, mas, mesmo assim, não ter chegado para defender Suas Excelências e, pelo sim pelo não, estar preparada a polícia espanhola para intervir? Não se admire, assim, que Presidente e Governo vão acabar mal, infelizmente o digo…