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Acaba de realizar-se em Porto Alegre um importante seminário de avaliação dos dez anos do Fórum Social Mundial (FSM) e de debate sobre o seu futuro. Paralelamente ocorreram centenas de iniciativas nas cidades da região metropolitana que reuniram 30 mil pessoas. Os grandes media decidiram não noticiar este acontecimento e, em contrapartida, encheram-nos de detalhes sobre a reunião do Fórum Económico Mundial (FEM) realizado em Davos.
Não deixa de ser estranho, sobretudo se tivermos em conta que, ao longo da última década, as análises e previsões feitas no FSM se revelaram muito mais certeiras que as feitas no FEM. Em 2001, o neoliberalismo (as privatizações, o livre comércio e a desregulamentação económica e financeira) era para o FEM a solução definitiva das crises cíclicas do capitalismo e assim foi considerado até à crise financeira de Agosto de 2008, que o FEM não previu. Pelo contrário, o FSM defendeu que o neoliberalismo não era a única solução, antes era de todas a mais injusta e que as crises que vinha provocando em vários países acabariam por chegar ao coração do capitalismo global, o que aconteceu. À luz disto, seria de bom senso ter em conta os temas que vão dominar o FSM nos próximos anos.
O primeiro tema é a paz e a democracia. As análises do FSM apontam para o recrudescimento da militarização dos conflitos sociais, incluindo a criminalização dos movimentos sociais e dos protestos dos cidadãos ante o agravamento da crise económica e das desigualdades, e o ressentimento que ele provoca, já que as suas vítimas são sempre os moralmente mais honestos, os socialmente mais vulneráveis e os politicamente menos poderosos, uma tríplice condição sobreposta nos ombros da maioria da população mundial. Esta preocupação está presente nas muitas actividades previstas para 2010, do 2.º Fórum Social dos EUA aos oito fóruns a realizar no mundo árabe ou islâmico: o 1.° Fórum Social do Iraque, o 6.° Fórum Social Europeu (Turquia) e os Fóruns temáticos sobre os sindicatos (Argélia), a discriminação sexual (Tunísia e Jordânia), os trabalhadores rurais (Egipto), a paz e a educação (Palestina), e a democracia (Bangladesh). Tudo isto a caminho da próxima edição do FSM unificado, a realizar em Dakar no início de 2011, subordinado ao tema dos diálogos Sul-Sul, outro tema emergente de que muito se ouvirá na próxima década.
O segundo tema é a crise civilizacional decorrente da insustentabilidade do modelo económico dominante. A prova está feita, apesar de negada, mais uma vez erradamente, pelo FEM: o modelo económico assente no crescimento infinito, no uso indiscriminado dos recursos naturais, na privatização dos bens comuns (a água, o ar, a biodiversidade), no consumo como definidor de um modo de ser assente na obsessão de ter e num estilo de vida alimentado pelo abandono prematuro de objectos indiferentemente pessoais, não só é injusto como é insustentável e os seus perigos para sobrevivência da humanidade em breve serão irreversíveis.
Isto significa que o feitiço da superioridade civilizacional com que o Ocidente excluiu ou destruiu os que se atravessaram no seu caminho se vira agora contra o feiticeiro. A reacção pode ser destrutiva mas também pode ser anunciadora de uma nova consciência planetária feita de convergências insuspeitadas entre saberes ancestrais (indígenas, camponeses, populares), inquietações ambientais e éticas feministas de cuidado. O debate civilizacional vai estar no centro do 5.° Fórum Social Pan-Amazónico (Brasil) e no 4.° Fórum Social das Américas (Paraguai).
O terceiro tema é o dos sujeitos políticos que levarão por diante as lutas pela paz, pela democracia e por um modelo social, cultural e económico pós-capitalista. Este é o tema que obriga o FSM a reflectir sobre si próprio. Como não desperdiçar a energia transformadora que ele gerou? Como construir alianças transcontinentais entre movimentos e partidos políticos convergindo em agendas realistas e portadoras de novas hegemonias? Como tornar o mundo menos confortável para o capitalismo predador? Talvez o FSM precise de criar o seu próprio FSM.