O Benfica está cada vez mais parecido com o João Pinto, antigo jogador e agora treinador-adjunto do FC Porto. Dizia ele, uma ocasião, numa conferência de imprensa: “Estávamos à beira do abismo e fizemos o que tínhamos a fazer: demos o passo em frente.” No futebol do Benfica, todos os anos, fazem a mesma coisa. Deve ser por causa da águia: estão convencidos que é desta que levantam voo e evitam nova queda.
Vem isto a propósito do já confirmado afastamento do técnico Quique Flores e da mais do que provável chegada de Jorge Jesus ao comando da equipa encarnada. Mudança que, na minha modesta opinião, é apenas o enésimo salto no escuro na história recente do Benfica.
Para que fique claro, não está aqui em causa a capacidade técnica de Jorge Jesus, já comprovada nos excelentes trabalhos realizados, nomeadamente, ao serviço de Sporting de Braga e Belenenses. O problema é que o Benfica não tem demonstrado ser um clube capaz de valorizar qualquer treinador, por mais categorizado que seja à chegada. E, no caso de Jesus, o problema agrava-se pelo simples facto de ser português e de nunca ter orientado qualquer equipa de topo, factores que o deixarão mais exposto quando surgirem os primeiros reveses. E, não tenhamos dúvidas, nunca merecerá da parte dos adeptos e da imprensa, dos estados de graça de que Quique, Camacho ou Koeman beneficiaram.
No Benfica, ninguém tem paciência para construir o que quer que seja. Querem ganhar, mas não sabem como. Num clube onde há gente a mais a dar palpites e a querer mandar, todos os anos se deita a baixo trabalho feito, todos os anos se gastam milhões para recomeços cheios de esperança, que redundam invariavelmente em finais de época deprimentes.
Esperava, sinceramente, que a chegada de Rui Costa à administração viesse mudar esta realidade. Mas a verdade é que, ou porque é mais um igual aos outros, ou porque não o deixam ser diferente, o ex-craque fica ligado a mais uma época (a última), aparentemente, deitada à rua, da qual pouco ou nada se vai aproveitar. Até Agosto, vamos assistir ao encher de mais um balão. Vão chegar mais “craques”, uma equipa técnica toda nova, com métodos e ideias novas. E, se nada de profundo mudar realmente, lá vão ficar Jesus e os seus apóstolos a pregar sozinhos, ao sabor dos resultados. E serão apenas estes a ditar se o novo técnico vai passar a ser o novo “Ai Jesus” dos benfiquistas, ou apenas mais um “Ai Jesus” para os benfiquistas. Será aleatoriedade a mais, mesmo para quem transporta o nome do filho do Criador…