O futebol português viveu, este fim-de-semana, mais um dia negro. Aquilo que tinha tudo para ser uma grande festa, um estádio cheio para ver duas das melhores equipas nacionais a disputar uma grande final, foi estragada pela actuação do árbitro. E não me refiro apenas ao lance em que Lucílio Baptista decide assinalar um penalti que não existiu. Falo de toda uma actuação perfeitamente desastrada, do primeiro ao último minuto, que foi o espelho da incompetência deste árbitro e de muitos dos seus colegas.
O lance que acabaria por dar o empate ao Benfica revestiu-se, obviamente, de uma maior importância por ter alterado directamente o rumo do resultado. Mas o que dizer do resto da actuação de Lucílio Baptista? Das faltas e dos muitos cartões que ficaram por assinalar e mostrar a jogadores de ambas as equipas? Da forma como, por omissão pura, deixou que, desde o apito inicial, o jogo fosse tomado por entradas duras de ambos os lados, de faltas consecutivas, que transformaram aquela final da Taça da Liga num jogo penoso de ver?
É evidente e natural que, depois desta arbitragem, se assista à habitual discussão. Os sportinguistas reclamando, com razão, da forma escandalosa como acabam por perder mais esta final. Ao mesmo tempo que já nem se lembram o duplo fora-de-jogo com que chegaram ao golo em Vila do Conde, na vitória sobre o Rio Ave, também nesta edição da Taça da Liga. Os benfiquistas, por seu lado, vão encolher os ombros, lembrando que estas são contingências do futebol e lembrar que foi de forma idêntica que, no Dragão, acabaram por empatar um jogo que parecia ganho. Tudo discussões legítimas, apaixonadas, mas estéreis quanto ao resultado final.
O que esta como várias outras arbitragens deveriam motivar era, de uma vez por todas, uma discussão séria quanto à arbitragem nacional. Está na hora de os agentes do futebol se deixarem de clubismos e perceberem que, ou se juntam para discutir, seriamente, esta questão, ou vão continuar a contribuir para o descrédito total. Um descrédito que tem vindo a matar o espectáculo e ameaça matar o negócio.
Mas quando falo em discutir a arbitragem não podemos ficar pela mediática polémica da introdução, ou não, dos meios tecnológicos no auxílio à arbitragem. No estado em que a arbitragem portuguesa está, começar a discussão pelo fim é contribuir para que tudo fique na mesma. Importante é saber que formação dar a quem quer ser árbitro; saber quem são e o que valem os formadores; perceber como deve organizar-se o edifício da arbitragem portuguesa, se dependente das associações e da federação ou se de forma autónoma; como são escolhidos os árbitros para os jogos; como são premiados, penalizados ou responsabilizados. São todas estas questões de deverão merecer reflexão e respostas, por forma a que o futebol português possa começar a ter árbitros mais competentes, mais preparados e mais independentes. Sem isto, não serão os meios tecnológicos a salvar os árbitros. Um Lucílio Baptista auxiliado por um vídeo seria apenas um bocadinho menos incompetente.