Sei que é cedo para se fazerem balanços, mas, em vésperas do clássico entre Sporting e FC Porto, que vai encerrar o primeiro ciclo da época para os três grandes do futebol português, já é possível definir algumas tendências, traços que poderão vir a definir o resto da temporada.
Logo à cabeça, parece evidente que tudo aponta para uma época muito mais competitiva e disputada pelos lugares do topo da tabela, porque os três grandes candidatos estão mais próximos em termos de valor. As posições de Nacional e Leixões não são mais do que conjunturais, não sendo de prever que a luta pelo título vá além dos três do costume.
O campeão FC Porto perdeu jogadores fulcrais relativamente à época transacta (Paulo Assunção e Quaresma) e quem chegou de novo ainda não convenceu. O famoso Cebola, por exemplo, até agora, ainda só deve ter feito chorar quem teve de pagar os muitos milhões que o Benfica não esteve na disposição de dar… Obrigado a montar nova equipa, Jesualdo Ferreira demonstra grande dificuldade em conseguir pôr a máquina a funcionar, percebendo-se que só Lucho e Lisandro não chegam. Basta ver que, até esta data, nos jogos de maior grau de dificuldade, o FC Porto nunca ganhou. Perdeu a final da Supertaça, foi humilhado em Londres e, na Luz, limitou-se a jogar para não perder, mesmo com um adversário reduzido a dez durante mais de meia-hora de jogo.
O Sporting partiu na frente e foi elogiado pela crítica, que enaltecia a capacidade que o clube revelara para manter os melhores jogadores e fazer contratações cirúrgicas (Rochenback e Caneira). Os resultados da pré-época e a vitória na final da Supertaça pareciam dar razão a estas análises. Mas, desde Agosto, o Sporting só ganhou os jogos acessíveis. Contra Barcelona e Benfica, não resistiu. A mesma crítica coloca, agora, Paulo Bento e a estrutura directiva em causa, dada a aparente incapacidade para travar os problemas no balneário.
Bento parece ter uma necessidade inexplicável de ter sempre um alvo a abater no balneário. Aconteceu com Beto, depois com Carlos Martins, mais recentemente com Stoijkovic e, esta época, com Vukcevic. Tudo correria bem se estas “novelas” não fossem desgastantes e acabassem por ser resolvidas rapidamente. Não são não é isso que acontece como, este ano, perante o vazio da SAD, Paulo Bento vê-se na contingência de lidar com estes “dramas” sozinho ou apenas com a ajuda de alguns jogadores. Pior a emenda que o soneto, como se viu nos casos de Caneira e Derlei, que não resistiram a vir a público criticar, respectivamente, João Moutinho e Vukcevic.
Como se não bastasse, ainda deixam que jogadores como Miguel Veloso, venha para a imprensa aconselhar os adeptos que assobiam a equipa – os mesmos que pagam caro pelo lugar – a ficarem em casa. Para quem precisa de ganhar ao Porto no próximo domingo, talvez não fosse má ideia morder a língua antes de abrir a boca… Ou será que, perante a recuperação de Izmailov, Miguel já sabe que só por milagre vai sair do banco no próximo domingo?
Enquanto isto, o Benfica começou mal a época. Os empates em Vila do Conde, na Luz, frente ao FC Porto, várias lesões e uma entrada na Taça UEFA contra uma poderosa equipa do Nápoles pareciam contrariedades suficientes para abalar, desde logo, a confiança no novo treinador. A mesma crítica que clamava já ser este o ano do Sporting, fazia já apostas quanto ao tempo que Quique Flores e Rui Costa iriam aguentar no Benfica. Mas a verdade é que, aos poucos, a equipa orientada pelo espanhol foi subindo de rendimento e, ao contrário dos adversários, ganhando os jogos decisivos: a vitória, clara, sobre o Sporting colocou os encarnados a um ponto do primeiro lugar, e o triunfo sobre o Nápoles confirmou a presença na fase de grupos da Taça UEFA.
Mais do que os resultados, o Benfica mostra segurança estrutural, acerto nas contratações, várias opções para cada lugar da equipa e uma dinâmica de jogo que há muito não se via naquelas bandas da Segunda Circular. A ponto de serem muitos aqueles que apostam que está de volta o antigo “Inferno da Luz”. Será?