O Benfica está prestes a iniciar a pioneira aventura em Portugal de deter um canal de televisão próprio. A Benfica TV, cuja grelha é esta sexta-feira apresentada e que tem, já na próxima semana, a sua primeira grande transmissão em directo (o Benfica – Nápoles a contar para a Taça UEFA), promete revolucionar o panorama do futebol português.
À primeira vista, são inegáveis as vantagens financeiras que o clube vai poder tirar deste investimento. Porque carga de água é que o Benfica deveria continuar a desvalorizar um dos seus principais activos, oferecendo a preço de saldo as transmissões televisivas dos seus jogos de futebol a um intermediário para que seja este a ganhar os milhões?
Se se analisarem os orçamentos dos três clubes grandes de Portugal e se comparar com o que se passa nas contas da esmagadora maioria dos clubes ingleses, espanhóis ou italianos, percebe-se que o peso relativo da venda dos direitos televisivos é muito inferior cá do que lá fora. O que não faz sentido algum, visto que a capacidade de gerar receitas alternativas (merchandising, bilheteira ou venda de passes de jogadores) é, obviamente, superior nos grandes campeonatos europeus. E é a prova inequívoca de que, em Portugal, os clubes estão a perder muito dinheiro com aquela que deveria ser uma das suas fontes de receitas principal.
O Benfica ter, nesta altura, capacidade de cortar as amarras da Olivedesportos, não ter de aceitar vender barato e a correr os direitos de vários anos de transmissões para fazer face a encargos imediatos é um excelente sinal. E não é apenas para o clube liderado por Luís Filipe Vieira. É o também para o Sporting, para o FC Porto, enfim, para todos aqueles que queiram voar um pouco mais alto.
Mas esta nova realidade que a Benfica TV faz antever – não duvidemos que, mais tarde ou mais cedo, vamos ter aí a Sporting TV e a FC Porto TV – promete introduzir uma nova fonte de conflito no panorama futebolístico. Não me refiro apenas à reacção dos poderes instituídos e de quem, durante anos, fez fortuna à conta do desgoverno dos clubes. Essa é óbvia, natural e está já em marcha. Refiro-me a uma questão aparentemente menos evidente, mas que vai, estou certo, fazer correr rios de tinta.
Já pensaram no jeito que não teria dado ao Benfica já ter a sua TV a funcionar e a transmitir o último duelo com o FC Porto? Podem ter a certeza que o Luisão nunca teria sido alvo de sumaríssimo e muito menos castigado, pois, as imagens que mostraram a sua agressão a um adversário nunca teriam sido tão profusamente repetidas como aconteceu com as da autoria da Sport TV.
Este exemplo aponta, a meu ver, para a necessidade de todos os intervenientes nos fenómenos futebolístico e televisivo pensarem muito bem na questão das transmissões. Ou se estabelecem regras claras quanto ao que deve ser mostrado, repetido e valorizado ou corremos o risco de, daqui para a frente, em vez de um campeonato, termos uma imensa quantidade deles, tantos quantos os canais que os transmitirem. E, podem crer, a comissão disciplinar da Liga não vai ter tempo para tanto sumaríssimo