Macedo de Cavaleiros, 21 Mar (Lusa) – A população da aldeia de Morais, no Nordeste Transmontano, encontrou no teatro um novo entusiasmo para dar a volta à solidão e o resultado, uma peça, já anda em digressão por terras transmontanas.
Dezoito actores e um cão são o elenco da primeira produção deste novo grupo de teatro do povo, que está a revigorar a aldeia do concelho de Macedo de Cavaleiros e ganhou fama nas redondezas.
Dos 14 aos 70 anos são várias gerações reunidas e em convívio num projecto que nasceu da procura da Rede Social de soluções para os problemas concretos da povoação. Em vez de sessões padronizadas, o conselho local de acção social de Macedo de Cavaleiros optou por outra estratégia: ouvir das pessoas quais são os seus problemas e encontrar soluções com elas, como explicou à Lusa a animadora Salomé Caturno.
Tudo começou com uma pergunta, como recorda uma das novas actrizes Ana Marto: “qual é o problema maior que têm aqui na aldeia?”. A resposta surgiu espontaneamente dos presentes, que depressa fizeram um enredo em volta da realidade mais comum: idosos a viverem sozinhos com os filhos longe, muitos no estrangeiro, sem apoio e com dificuldade de acesso às soluções institucionais.
Foi há um ano que o conselho realizou nesta aldeia, com cerca de 700 habitantes, um fórum- teatro e levou os idosos a representar o problema que mais apoquentava a todos, a solidão e a falta de lares. “Era um sábado, chamaram-nos para uma reunião e pensávamos que íamos ver teatro e afinal fomos nós que o fizemos”, contou Ana Marto, de 65 anos.
Assim nasceu o Grupo de Teatro de Morais para o qual o município disponibilizou um encenador, Acácio Padrinhos, que usou a mesma estratégia, produzir uma peça com o quotidiano local e as histórias e personagens que fazem parte do imaginário comum.
“A filha do Cabra” é o nome da peça que encheu, na estreia, o salão da casa do povo e teve de ser repetida no “grande” auditório da sede de concelho, no centro cultural da cidade e Macedo de Cavaleiros.
Desde então, estão em digressão e já foram a outras aldeias como Bemposta e Urrós, no concelho vizinho de Mogadouro, Chacim, em Macedo de Cavaleiros, estão em negociações para ir a Sendim (Miranda do Douro) e na Páscoa vão apresentar-se novamente na sua aldeia.
Têm actuado, sobretudo em lares de idosos, para um público com realidades semelhantes de envelhecimento e solidão, embora este grupo de teatro tenha conseguido reunir um grupo de seis jovens adolescentes.
Para os jovens, este projecto mostra que “Morais está em desenvolvimento” e que há mais vida para além do grupo de futebol, o Morais, que vai à frente e faz sempre um brilharete no campeonato distrital.
Quando sobe de divisão é que nunca se aguenta, reconhece Assírio Bento, que concilia agora a sua tarefa de roupeiro do clube de futebol com o papel principal do “Cabra” no teatro.
O convívio é o que mais grada a Lurdes Rodrigues, actriz e dona da cadela Nica, a “sete águas” do teatro, mascote do grupo. Se não fosse este projecto, Lurdes passava o tempo em casa “a dar dois pontos na renda, ao lume e só”.
Maria da Piedade já estaria na cama, às nove da noite, cumprindo a sua rotina, mas num dos últimos ensaios decidiu entrar no salão da casa do povo e assistir. “É bonito, fazem-no muito bem”, diz com o entusiasmo que a faz ansiar passar de espectadora a actriz.
O mesmo entusiasmo com que o projecto conquistou uma nova parceira, fazendo ressuscitar a moribunda AAMMOR, a Associação de Amigos e Melhoramentos de Morais.
HFI.
Lusa/fim