A aplicação chama-se Flightradar24 e mostra todos os aviões comerciais em trânsito no mundo inteiro. Clicando no ícone, informam-nos sobre o modelo e a companhia aérea. À distância, parecem moscas que se atravessam pelos continentes. No total, chegam a estar 11 mil aviões no ar em simultâneo. A queda de um é de grande irrelevância estatística. O avião continua a ser o meio de transporte mais seguro (mais seguro até do que andar a pé). E aquele de que as pessoas mais desconfiam.
A irrelevância estatística do acidente da Germanwings corresponde a uma tragédia para 150 pessoas, seus familiares e amigos, e para a aviação europeia, em geral. A rota é usual, ninguém fica indiferente. Há muito mais pessoas a morrerem em acidentes de viação, mas os acidentes aéreos transmitem uma sensação de impotência, de fatalidade e inevitabilidade, que se torna muito mais assustadora. Os aviões voam demasiado alto e demasiado depressa. Nós não somos pássaros. Este é o mais extraordinário desafio das leis da física. O homem a superar-se a si próprio e um veículo primordial da globalização.
A segurança dos aviões é baseada nas chamadas redundâncias. É o que permite que um componente se avarie sem afetar a navegação. Esta coisa das redundâncias é levada tão a sério, que até os pilotos são dois (nos voos de longo curso, três). Se um dos pilotos se ‘avariar’, está lá outro para o substituir. Deveria ser assim. Só que o copiloto decidiu ‘avariar-se’ enquanto o outro foi à casa de banho e o avião caiu. Um psicopata suicida ou um suicida psicopata, que decidiu matar e morrer naquele dia (não sabemos por que ordem). Não foi falha técnica, mas um erro humano ou um erro de casting: aquele piloto, que rasgara a baixa médica, jamais deveria pilotar aviões. Tardiamente se conclui.
Será que nos sentiríamos mais seguros se viajássemos num avião sem comandante, apenas com dois pilotos automáticos (para salvaguardar as redundâncias), ao exemplo de o que acontece há mais de uma década numa das linhas de metro de Paris? Confiaríamos na fiabilidade da rota, bem como a perícia programada para lidar com o improviso. A porta do cockpit jamais se abriria ou fecharia, simplesmente porque deixaria de haver cockpit. Possivelmente, um dia chegaremos à conclusão que mais vale sermos comandados por máquinas do que por homens, porque as máquinas não falham. A não ser quando são mal programadas.