Editor- Meu caro, temos de poupar… é a crise.
Escritor- Sim, mas em quê senhor Anselmo?
Editor – Ora essa! Nas palavras, deixe-se de romances e macacadas à Chandler e escreva mas é contos… de preferência poéticos ou porcos, ou as duas coisas.
Escritor – Nesse caso, sempre prefiro legendas e notas de rodapé.
Editor – Desde que tenham um pungente lirismo ou sejam porcos, tanto se me dá.
Escritor – E ganho à palavra? Com ou sem espaços?
Editor – Os espaços não contam, o meu caro amigo não é astronauta, ou é?
Escritor – E as vírgulas?
Editor – Deixe-se disso, não viu o Saramago?
Escritor – Isso quer dizer que estamos em austeridade senhor Anselmo?
Editor – Cada um sabe a manteiga que gasta no paposseco.
Escritor- Uma metáfora senhor Anselmo?
Editor- As únicas metáforas que a editora Anselmo&Filhos dá à estampa são as metáforas comestíveis.
Escritor- Então vamos cá passar uma fomeca com a literatura.
Editor – Almoce tremoços e chupe o sal dos dedinhos meu rapaz. E agora, arrefinfe-lhe na prosa.