Fundo de garrafa
Almoça sozinho numa tasca ao virar da esquina. Menu: prato do dia, garrafa de vinho e copo de whisky. Os jornais a acompanhar. Um hábito mais do que um ritual. "A conta, por favor". Óculos na mesa, lentes embaciadas, lenço de pano em círculos a apagar o que não se vê. Acena aos empregados e sai aos esses em direcção ao escritório. Como se os seus olhos fossem os seus óculos e os seus óculos estivessem bêbados. Os colegas, cada vez mais preocupados com o estado em que se apresenta para trabalhar da parte de tarde, avisam-no para que tenha mais cuidado com a bebida. Não faz caso. O problema não está no álcool, garante-lhes. Mas nos seus velhos óculos fundo de garrafa.