HÁ QUE ESCOLHER
As sugestões de Carolina Freitas
Está tudo a postos para o 18º Super Bock Super Rock. O recinto da Herdade do Cabeço da Flauta, em Sesimbra, abriu ontem, a 4, para a habitual Noite de Receção ao Campista. Ritual iniciático para festivaleiros, que aproveitaram para conhecer os cantos à casa, e técnicos, concentrados nos últimos testes de som e de luzes. E se no primeiro dia não houve muito por onde escolher, com um conjunto de DJs a atuar num único palco, o @Meco, entre hoje, 5, e sábado, 7, o caso muda de figura. É preciso optar e não será de ânimo leve, quando está em causa uma edição que aos nomes consagrados do palco principal, junta grandes bandas emergentes no palco secundário. Eis um dos percursos Super.
Salto – Palco Super Bock Super Rock – 19h
“Não tocamos nada que se pareça com rock ou estilos de música já bastante percebidos pelo público em geral. Temos uma veia muito melódica, pop, mas também estamos a estudar eletrónica e novas vertentes da pista de dança. É uma coisa bastante experimentalista e audível, ao mesmo tempo”. Assim se apresentam os Salto, banda de Guilherme Tomé Ribeiro e Luís Montenegro, que, com apenas 19 anos, recebem as honras de abertura do palco principal do Super Bock Super Rock. Vale a pena, com eles, dar o salto para a grande festa. São músicas cheias de energia e espontaneidade juvenil, sem medo do risco e do erro, que prometem dar o timbre certo ao festival. Pura diversão.
The Happy Mess / Alabama Shakes / Bat For Lashes / Battles – Palco EDP – A partir das 20h40
Depois, é pegar em duas cervejas e preparar-se para passar grande parte da noite em frente ao Palco EDP. Oportunidade para ouvir ao vivo a banda portuguesa The Happy Mess, que tem causado sensação com o EP de estreia October Sessions. À pop rock com ressonâncias dos anos 80 do grupo liderado pelo jornalista Miguel Ribeiro, seguem-se três grandes nomes do panorama indie: Alabama Shakes, banda de blues rock que aterra pela primeira vez em Portugal para mostrar o seu álbum de estreia, Boys & Girls; Bat for Lashes, nome artístico da cantautora e multi-instrumentista britânica Natasha Khan, que Tommy Yorke, dos Radiohead, elege como uma das suas cantoras preferidas da atualidade; e Battles, grupo nova-iorquino de rock experimental que, depois de ter rendido o público de Paredes de Coura, em 2011 (que os considerou a melhor banda do festival), é capaz de vir a causar o mesmo efeito no Meco.
Hot Chip – Palco Super Bock Super Rock – 2h40
Ficou atordoado com o punch de introspeção das bandas anteriores? Tem bom remédio. Pegue numa garrafa de água e vá até ao palco principal. É tempo de dançar até que o corpo lhe doa, ao som da eletropop contagiante dos Hot Chips, que prometem êxitos como ‘Over Over’ ou ‘Ready For The Floor’, e temas do álbum que acabam de lançar, In Our Heads.
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ENTRAR NO ESPÍRITO
As sugestões de Luís Ricardo Duarte
Dizem que é preciso entrar no espírito, despir os preconceitos e mergulhar na festa. Três dias de muita música, mesmo que os elementos sejam adversos. Este ano até há relva para manter a terra rente ao chão e um sistema de rega para a poeira engrossar. Não faltará cerveja do patrocinador, os habituais e rápidos comes e bebes e vastos e ruidosos ajuntamentos juvenis, a avaliar pela receção ao campista de ontem. É preciso entrar no espírito, dizem, e eu não fujo à chamada. Desde o primeiro minuto. Na pré-inauguração ambientei-me aos espaços, vi os ensaios de som e luz nos palcos Super Bock e EDP, escolhi os meus lugares e defini o meu percurso musical. Afinal, sempre é um festival onde a música é quem mais ordena. Há 18 anos, nem sempre no sítio do costume. Em 2012, pelo terceiro ano consecutivo, na Herdade do Cabeço da Flauta, no Meco, em Sesimbra. Eis o meu percurso para o dia de hoje, quinta-feira, 5, neste 18.º Super Bock Super Rock.
Salto – Palco Super Bock Super Rock – 19h00
Foram a ultima confirmação e merecem honras de abertura. Os Salto acabam de lançar o seu disco de estreia (Os Salto) e terão aqui o seu primeiro teste. Oportunidade para Guilherme Tomé Ribeiro e Luís Montenegro provaram se sempre fazem, como dizem, “melodias que agarram à primeira, como mandam os livros”. Certo é que cantam em português e fazem parte de uma nova geração de músicos portugueses “que não se envergonha da sua própria língua e lhe têm dado uma vida nova”. Disso ninguém duvida. A seu favor têm a ansiedade do início da festa. Contra, a dimensão do palco principal. A ver vamos.
Alabama Shakes – Palco EDP – 21h50
Se o leitor já tiver arrumado o jantar a tempo talvez ainda consiga ouvir o início de Capitão Fausto (banda de Domingos Coimbra, Francisco Ferreira, Manuel Palha, Salvador Seabra, Tomás Wallenstein), no palco Super Bock Super Rock. Mas convém não perder a primeira atuação em Portugal dos Alabama Shakes, o coletivo de Brittany Howard, Heath Fogg, Zac Cockrell e Steve Johnson e de quem muito se espera. Ainda só lançaram um álbum, Boys & Girls, em abril deste ano, depois de um EP, em 2011. A espera para a primeira atuação em terras lusas até que nem foi longa. E este concerto talvez sirva para dizer, como sugere Luís Montez, organizador do festival, em entrevista à Visão, “eu estive lá”. Quando tudo começou. Os festivais portugueses são férteis em descobertas de bandas que fazem furor. Quem sabe se esta não é mais uma.
Bat For Lashes – Palco EDP – 23h50
Dois concertos e ainda quer mais? Pois, eu sei, é o espírito dos festivais, já me disseram. O que é um corpo cheio de pó quando se tem boa música? Enquanto pensa na resposta o melhor é continuar no Palco EDP e preparar-se para as muitas e boas cantoras que vão passar pelo Super Bock Super Rock, com o clímax a chegar no sábado, com a segunda atuação de Regina Spekor entre nós. Antes chega-nos Bat For Lashes e não é pouco. É verdade que o Incubus estarão ali ao lado, no palco principal, mas vale a pena ficar pelo Palco EDP, até porque, com sorte, poderá ouvir algum material novo. A cantora inglesa, cujo verdadeiro nome é Natasha Khan, já anunciou que vai ter álbum novo em Outubro. É o regresso muito aguardado depois de Fur and Gold, de 2006, e Two Suns, de 2009.
Pela noite dentro – Vários espaços
Ainda quer mais? Também eu. Mas agora sem guião. Desligue o GPS e ande por aí sem destino. Oiça o final dos Incubus no Palco Super Bock Super Rock, dê uma espreitadela no Palco @Meco, onde a música eletrónica não para desde o início da noite (tem Flying Lotus, à 1, Magnetic Man, às 2 e 30, e Beatbombers, às 4 e 15). É melhor passar também pelo electropop dos Hot Chips, no palco principal, a partir das 2 e 40. E quando der por si o parque de estacionamento, se veio de carro, ou a fila para os autocarros, se optou e bem pelos transportes públicos, já deve estar livre dos mais apressados. Amanhã há mais.