Num conflito há sempre danos. Mas atenção! Não fomos nós que iniciámos esta guerra. O nosso governo foi derrubado há vinte anos e tudo o que fazemos agora é restaurar o que tínhamos. Nós estamos aqui apenas para fazer respeitar a lei muçulmana que não tem sido respeitada. Estamos aqui para corrigir os erros.
O senhor diz-me que temos mortos e feridos e eu respondo-lhe: sim, temos mortos e feridos, é natural, mas temos mortos e feridos de ambos os lados. Todos lutamos pelo que acreditamos, todos podemos morrer pelo que acreditamos. Não há volta a dar, ambos os lados estão a morrer para impor a sua lei. E nós não aceitamos mais do que a lei muçulmana. Não podemos viver sem a cumprir.
É claro que estamos a tentar não matar civis, mas matar civis acontece. Não há guerras sem danos colaterais. Não há conflitos sem danos colaterais, sem pessoas em desacordo, e nós temos de abrir os olhos a todos! E é por isso que haverá sempre civis a morrer do lado certo, mas também do lado errado, o lado que nos tirou do governo e que quis impor uma sociedade à maneira ocidental que em nada tem a ver com a nossa!
Pergunte a qualquer residente desta terra que veja a passar na rua, pergunte. Nenhum lhe vai dizer que aplaudia o governo anterior. Todos estamos contentes com o fim deste governo sujo e corrupto. Há consequências e há um preço a pagar por esta mudança? Pois com certeza. Mas quem é que mudou para melhor sem alguma vez sofrer? Nós não tememos sofrer por aquilo em que acreditamos. E por vezes é preciso tomar decisões difíceis, decisões radicais, decisões corajosas, decisões que implicam o sacrifício de todos e a aceitação de todos.
Mas não é verdade quando se diz que estamos a fazer a este governo o que este governo nos fez a nós. Nós estamos a corrigir um erro, nós estamos a derrubar um governo que não tem o direito de governar o nosso povo. Estamos a ocupar um lugar que é nosso.
E não é verdade que estamos a pôr em causa os direitos das mulheres, nós estamos a impor a lei islâmica, os costumes e os deveres da lei islâmica, algo muito diferente. Não há direitos sem deveres.
E não é verdade quando dizem que estamos a impor as novas leis à força. Primeiro não são novas leis, são as únicas leis que deveriam ser impostas. Não há outras! Segundo, nós não estamos a forçar ninguém, nós estamos apenas a dizer a todas as mulheres que devem usar uma burqa para saírem à rua, não devem mostrar o seu rosto, que pertence aos seus pais e aos seus maridos, como dita a lei islâmica. O senhor pergunta-me o que acontece se não usarem a burqa? Nada, desde que usem um lenço hijab.
Não estamos a conduzir ninguém à força, estamos a pregar à população para que nos ouça e aprenda a viver melhor e de acordo com a sharia.
E não é verdade que estamos a usar os cofres de estado para alimentar a guerra. O nosso responsável militar é agora também o máximo responsável pelas finanças e pelos impostos do país exatamente para podermos reconstruir tudo o que tivemos de destruir para impor o nosso governo mais uma vez.
Não é verdade que banimos toda a música estrangeira. Ainda não o fizemos, mas temos de concordar que o consumo de música estrangeira, da clássica à pop, deve ser regrado. Se as escolas de música clássica fecharam, se a orquestra feminina do Afeganistão já não toca e se os estudantes de música estão a entregar os seus instrumentos ao conservatório é por vontade própria e para o bem comum. O governo talibã ainda não se pronunciou sobre a censura ou não de estilos musicais ou sobre a publicidade a produtos estrangeiros nos intervalos dos programas de rádio. Banimos, é certo, a possibilidade de mulheres com mais de doze anos cantarem em público. Uma mulher de doze anos está preparada para a vida adulta e para os seus deveres matrimoniais, não deve estar na escola como se fosse uma criança nem deve cantarolar pela rua fora. Isto são apenas boas regras de educação, penso que todas compreendem.
Vá ao mercado hoje mesmo e veja quantas mulheres fazem compras durante o dia.
Mas também é verdade que uma mulher não nasceu para se divertir, mas para ser mãe, para ser mulher, para ser cuidadora. Está nos seus genes! E veja, o que um homem se diverte, na rua, em conversa com familiares e amigos, numa feira ou numa festa, fá-lo também em nome da sua mulher. O homem quando sai à rua, sai pelos dois, faz pelos dois.
Se há relatos de pessoas obrigadas a andar descalças sob o chão quente até desmaiarem, ou de mulheres a receberem cem chicotadas ou a serem apedrejadas até à morte por manterem relações fora do matrimónio, ou ainda notícias de mãos amputadas a cidadãos que roubam, todos esses relatos correspondem a atos isolados de cidadãos que, certamente, estão a fazer justiça com as suas próprias mãos, não são do nosso conhecimento ou ordenados por nós.
Agora, também devo dizer-lhe: adultério, roubo e outros comportamentos ocidentais não serão tolerados pelo nosso governo. E compreendemos que nas grandes cidades, onde os comportamentos são mais obscenos do que nas pequenas aldeias porque estão fora do nosso controlo há muito, é preciso ser mais rigoroso. É normal. Quem não cumprir a lei, será punido, tal como acontece nas vossas terras também. Tem de haver respeito pelo cumprimento da lei islâmica.
Estamos a provocar uma mudança fundamental. Queremos endireitar a nossa sociedade, estamos a reeducar os nossos civis que foram desviados pelas forças externas a adotar comportamentos contra as suas próprias crenças, as suas próprias famílias, as suas próprias tradições e convicções. Queremos seguir a lei islâmica com rigor e devoção. E sem um único desvio.
Tem de compreender, o mundo estava errado antes, o nosso país estava entregue a pessoas monstruosas e de má índole, agora é que vai acertar o passo e ser aquilo que deve ser.