E à 11ª edição (21/7/1981) surge um JL diferente: faltam-lhe os extraordinários retratos e as fantásticas ilustrações de João Abel Manta! Dá-se a noticia, dizendo que foi de justas “férias” e voltará em breve. Era o meu profundo desejo – mas, de facto, não voltou, de forma permanente. Em próxima oportunidade contarei porquê.
Junto à má notícia destas “férias”, uma muito boa notícia, que por uma lado atestava o prestígio e a projeção que o JL já tinha conquistado, em múltiplas latitudes, e por outro os reforçava e ampliava significativamente. De faco, nela se dava conta que o nosso jornal passara a chegar a mais “quase 300 intelectuais, escritores e professores especializados ou interessados na cultura e língua portuguesas em todo o mundo”, graças a assinaturas para eles feitas pelo Instituto Português do Livro – que, recorde-se, criado em 1980, era presidido pela rara ‘figura’ do escritor, muito prestigiado mormente no Brasil, António Alçada Batista.
Bom, após os números e os notáveis desenhos de João Abel ocupando três quartos da mancha gráfica da capa, sob o logotipo, pela primeira vez uma foto – do jovem Sérgio Godinho. Que acabara de lançar um álbum, o sétimo, O Canto da Boca. Sobre o criador/cantor e o seu novo título escreve Arnaldo Saraiva, o prof. de Literatura que não analisa só as letras como o todo, e tudo, incluindo a ligação ao Porto, num excelente texto que continua a valer muito a pena ser lido, e a que o autor deu um título que ficaria para definir o artista: “Um SG gigante” (SG é uma marca de cigarros). A seguir, António Duarte ouve, a tal propósito, outros artistas. E o primeiro é o José Afonso, que considera Sérgio “um compositor fundamental da música portuguesa”.
O nº abre com um ensaio, de três pp., de Moisés Espírito Santo sobre “Funções sociais do simbolismo religioso”, continua com um artigo de Gabriel Garcia Marquez sobre “a literatura e a realidade”, inclui entrevistas de Rogério Rodrigues ao pintor Costa Pinheio, de France Huser ao poeta francês René Char, e, não assinada, a António Braz Teixeira, então secretário de Estado da Cultura (governo AD, de Pinto Balsemão). Carlos de Oliveira é evocado por Alexandre Pinheiro Torres, Manuel Alegre escreve sobre Aragon (“A rosa e o reséda”), publicamos uma carta inédita de José Régio para Miller Guerra, na qual fala fundamentalmente de François Mauriac.
E há mais, a colaboração da magnífica panóplia de colunistas, cronistas e críticos a que aqui já nos temos referido. Um último destaque, porém, para a página em que Mário Dionísio conta a história de um jantar com Jorge Amado no aeroporto de Lisboa, de que tínhamos publicado uma foto, que o autor de A Paleta e o Mundo analisa em pormenor no que intitula “Reconstituição dum crime”. Porque era a primeira vez, nesse ano de 1953, que Jorge passava por Portugal, onde estava proibido de entrar (e continuou, durante mais 13 anos…), por isso o jantar ser no aeroporto, vigiado pela polícia política. Convivas que o promoveram e se vêm na foto: Ferreira de Castro, Maria Lamas, Alves Redol, Lyon de Castro, Mário Dionísio, Carlos de Oliveira, João José Cochofel, Roberto Nobre e Fernando Piteira Santos. Mas também se vê outra mesa, em que estão os pides de serviço – e a alto ‘nível’, um deles é mesmo o sinistro inspetor Rosa Casaco, “fotógrafo” de Salazar e chefe da brigada que assassinou Humberto Delgado.