Graça: suíte teatral em três movimentos, um espetáculo dedicado a Graça Morais, estreia amanhã, quinta-feira, 15, no Teatro Taborda, em Lisboa. É a nova produção do Teatro da Garagem que inaugura um ciclo de “teatro documental”, segundo o encenador e dramaturgo Carlos J. Pessoa, que dirige a companhia. Com textos da pintora e do escritor Antonio Tabucchi, a peça surge de um encontro “feliz” com a artista e ao abrigo de uma antiga colaboração com o Teatro Municipal de Bragança. “A obra de Graça Morais é política, como assume, e nela há um empenhamento cívico em causas que considera importante refletir na sua arte. E isso agrada-me muito”, adianta o encenador ao JL. “Também entendo que a arte é política, tenho dificuldade de a entender desvinculada de um compromisso com os outros e com a tentativa de pensar sobre a sociedade em que vivemos. E nessa medida foi fantástico trabalhar neste espetáculo, uma oportunidade de admirar a sua pintura e dar-lhe a relevância que merece”.
Foi no atelier de Graça Morais, vendo a pintora a trabalhar, enquadramento filmado que integra a Suite, que Carlos J. Pessoa imaginou a peça e o que seria a sua encenação, o seu desenvolvimento em palco. As quatro telas que a pintora estava a criar, a série O sofrimento de Vénus, sobre a violência familiar, vão estar expostas no teatro, também a partir de 17. “Ver o seu processo criativo foi marcante e senti uma afinidade especial com um quadro que estava no atelier, sem perceber bem porquê. Foi assim que Graça me mostrou o texto de Tabucchi, que depois usámos”, explica ainda. “O quadro, A caminhada do medo, é sobre a questão das migrações, que infelizmente se agudizou na Europa nos últimos tempos. São temas como este, que está na ordem do dia, que marcam o seu trabalho e que permitiram um diálogo muito interessante na construção do espetáculo”. As interpretações são de Ana Palma, Beatriz Godinho, Maria João Vicente, Nuno Nolasco e Nuno Pinheiro.
Carlos J. Pessoa adianta, por outro lado, que a Suite teatral permitiu também um “pousio de escrita” na rotina criativa e dramatúrgica do Teatro da Garagem, habitualmente assente nos seus textos. “É uma forma de repensarmos a companhia numa outra modalidade”, salienta. Continuando a pegar em textos alheios vão apresentar de seguida Para uma encenação de Hamlet, de Jorge Listopad, uma “meditação incrível”, escrita no final dos anos 70, com estreia prevista para 15 de novembro. “São pessoas vivas, com obras muito importantes e com quem podemos conversar, fazendo uma espécie de documentários em cena”, diz. “É um teatro sobre pessoas que nos tocam”.