Durante quanto tempo faz sentido continuar a falar em “revelação”? Não há uma resposta científica a esta pergunta mas a experiência histórica diz-nos que há dois caminhos possíveis, com duração variável: as eternas revelações que, simplesmente, um dia se esfumam; as “revelações” que chegam a um preciso momento em que, aos olhos da maioria, se transformam numa “confirmação”.
A palavra “revelação” tem-se colado ao percurso de Elisa Rodrigues. Era o que lhe chamávamos quando, em 2013, aos 26 anos, passou a cantar nos concertos de Rodrigo Leão. E quando fomos surpreendidos pela sua participação no terceiro disco dos britânicos These New Puritans, Field of Reeds, apesar de ser erroneamente apresentada como “fado singer”… Elisa respira jazz e enquadra-se com naturalidade, sem favores, na grande família internacional de vozes femininas do jazz, ao lado dos melhores exemplos. Mas Elisa pertence a uma geração, e a um mundo, com poucas fronteiras rígidas. No seu disco de estreia, Heart Mouth Dialogues, de 2011, com a presença marcante do piano de Júlio Resende e integralmente preenchido com versões, cantava, por exemplo, Nirvana (Dumb), The Police (Roxane), The Beach Boys (God Only Knows) ou CocoRosie (By Your Side).
As voltas, muito livres e sempre inspiradas, que dava às melodias e fraseados de canções tão populares como Ain’t No Sunshine e Cry Me a River conquistaram a crítica especializada que se rendeu, com unanimidade, à sua voz. “Elisa Rodrigues é, sem sombra de dúvida, a melhor coisa que aconteceu ao jazz cantado em Portugal nos últimos anos e desde a emergência de Maria João”, escreveu, por exemplo, Paulo Barbosa na plataforma Jazz XXI.
Agora chega uma prova de fogo que há muito se anunciava – e que se pode transformar no tal momento decisivo que transforma uma “revelação” em “confirmação”. O primeiro disco de originais, As Blue As Red, tem data de edição marcada para o próximo dia 4 de maio. Com produção de Luísa Sobral, que também assina várias músicas, algumas delas em conjunto com a própria Elisa Rodrigues, o novo disco é maioritariamente cantado em inglês. Nas onze faixas há, apenas, duas excepções: Vai Não Vai (com assinatura de Pedro Silva Martins) e Pontinho, de Luísa Sobral. O single In And Around You já se pode ouvir por aí…
O showcase de Elisa Rodrigues no VISÃO Fest, no sábado 21 de abril, às 18h, com, entrada livre, será uma excelente oportunidade para percebermos o que aí vem.