Coube ao apresentador de TV João Manzarra dar as boas vindas às dezenas de pessoas que se deslocaram à sede da EDP, em Lisboa, para assistirem à conferência Por Um Bairro Melhor, uma iniciativa promovida pela VISÃO, SIC Esperança e Comunidade EDP que andou em busca das melhores ideias para revitalizar os bairros portugueses.
Ao longo de seis meses, foram apresentadas mais de 400 propostas, agora celebradas numa conferência sobre o que objetivamente torna os bairros melhores.
“Os bairros são fundamentais para ter uma cidade melhor”, começou por dizer o vereador do Urbanismo da Câmara Municipal de Lisboa, o arquiteto Manuel Salgado. Depois de uma pequena digressão pela evolução dos bairros lisboetas – de espaços fechados nos anos cinquenta a locais subjugados à mobilidade na atualidade – o autarca identificou uma diminuição da vida de bairro, mas afirmou a sua confiança no mundo virtual “que abre novas oportunidades para o espírito de bairro”.
Manuel Salgado deu vários exemplos de programas camarários que têm como principal objetivo a dinamização da vida de bairro. Um deles é o Orçamento Participativo (OP), que propõe a votação ideias apresentadas pela sociedade civil. Um dos projetos mais emblemáticos é a Start-up Lisboa, que apoia empresas de inovação, assegurando 1500 postos de trabalho. Mais recentemente, foi o Jardim do Caracol da Penha um dos projetos vencedores do OP, obrigando a câmara a alterar os planos de construir um parque de estacionamento no mesmo local.
O programa Uma Praça Em Cada Bairro tornou-se uma das iniciativas mais emblemáticas da autarquia. Ao todo, foram identificadas trinta praças, largos e ruas que foram (ou vão ser) intervencionadas de forma a serem devolvidos à população.
VIVER O BAIRRO
O espírito comunitário não esteve ausente do discurso dos convidados. Pedro Pires João, administrador da EDP Comercial, reconheceu que “não há nada melhor do que um bairro para reforçar o conceito de comunidade”.
A conferência reuniu um painel de debate com a empresária Xana Nunes, a fadista Cuca Roseta e o chef Kiko Martins. Em cima da mesa estava a contribuição da cultura, da música e da gastronomia para as dinâmicas locais.
“Em cada bairro uma cidade” é o lema da Lisbon Week, promovida pela equipa de Xana Nunes, que levará animação ao Lumiar entre 25 de março e 2 de abril. Todas as iniciativas são pensadas tendo em mente a história do bairro e as suas potencialidades. Estas incursões de Xana Nunes nos bairros de Lisboa levaram-na a certificar-se de que “as pessoas ainda vivem os bairros”. É na zona de residência que muitos lisboetas vão “às compras, ao café ou à missa”, assegura.
O chef Kiko Martins alertou, por isso, para a importância de “os bairros serem pensados com os portugueses em mente ou os turistas também acabarão por não se sentirem bem”.
A fadista Cuca Roseta não tem dúvidas de que o fado continua a funcionar como elemento agregador em diversos bairros de Lisboa e, no seu entender, nada melhor do que juntar o fado à “maravilhosa gastronomia portuguesa”, um elemento fundamental para o convívio nos bairros.
AGIR NO TERRENO
Além deste painel de debate, duas organizações apresentaram a sua missão diante dos convidados. Inês Andrade, da Associação Renovar a Mouraria – um dos bairros mais referidos ao longo da conferência – recorda-se bem de, há dez anos, na altura em que lançou o projeto, ninguém saber onde era a Mouraria. Hoje, passa-se o inverso: “Quem não sabe onde é a Mouraria?”, perguntou em tom desafiador.
Vivem mais de 6 mil pessoas na Mouraria, bairro que reúne mais de 50 nacionalidades. De acordo com Inês Andrade, um dos fatores agregadores do bairrismo local é a marcha popular “que cimentou o orgulho dos residentes”. Mas têm sido os projetos culturais e gastronómicos, além do comércio tradicional, os grandes focos da ação da Renovar a Mouraria.
Já o projeto Rés-do-Chão, representado por Margarida Marques e Manuel Pereira, intervém em zonas da cidade “desativadas”. Ao dinamizarem os pisos térreos desocupados da cidade, facilitam a dinamização do restante edifício e, em última instância, do bairro. Também trabalham junto do comércio tradicional, dinamizam o espaço público e promovem o contacto entre a vizinhança.
Depois da intervenção do CEO da Impresa, Francisco Pedro Balsemão, que destacou o papel dos bairros na promoção da empatia entre as pessoas, seguiu-se uma atuação ao vivo de Cuca Roseta.
“A marcha da Mouraria / Tem o seu quê de bairrista! / Certos ares de alegria, / É a mais boêmia, / É a mais fadista!”, cantou a fadista, dando voz à Marcha da Mouraria. E ao bairrismo do encontro.