Ana Teresa Freitas, 45 anos, professora do IST e CEO da empresa Heartgenetics, que desenvolveu um chip para o diagnóstico de patologias cardíacas.
“Durante metade da minha vida, gastei dinheiro para fazer ciência, agora vou usar a ciência para fazer dinheiro”, atira Ana Teresa Freitas, 45 anos. Uma afirmação surpreendente, a condizer com a mulher alta e feminina, de percurso singular. A madeirense tinha apenas 10 anos quando decidiu que queria ser engenheira eletrotécnica. Deixou a ilha quando entrou na universidade e fez parte da pequena minoria feminina que frequentava o curso de Eletrotecnia do Instituto Superior Técnico, em Lisboa. Logo nos primeiros anos da licenciatura, começou a fazer investigação, passando muitas horas na cave do Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores. Ali teve o gosto de assistir à transformação de um produto de investigação num sucesso comercial: o sistema de esquentador inteligente da Vulcano.
Fez o doutoramento e atingiu a confortável posição de professora associada daquele Instituto. Especialista em tratamento de dados, começou a interessar-se pela florescente área da biologia, em particular da genética, “onde nenhum projeto, hoje em dia, dispensa um especialista em informática”, pela quantidade de informação que é obrigatório tratar. Para entrar no mundo dos genes, completou algumas cadeiras do curso de engenharia biológica e, há três anos, uma porta fechada foi o empurrão que faltava para se lançar por outros caminhos. Para os avaliadores da Fundação para a Ciência e Tecnologia, o desenvolvimento de um chip de DNA – dispositivo que permite analisar vários genes em simultâneo -, aplicado ao diagnóstico de doenças cardíacas, era “demasiado viável para ser financiado”. Passado o choque inicial, Ana Freitas arregaçou as mangas e com outras duas sócias (Susana Santos, bióloga molecular, e Alexandra Fernandes, doutorada em Biotecnologia) montou uma empresa, a Heartgenetics, para explorar a tecnologia desenvolvida. O chip, cujo segredo está no software, guardado a sete chaves pelas cientistas, que nem se arriscam a patenteá-lo para não serem obrigadas a revelar pormenores, permite diagnosticar doenças cardíacas. “Podemos detetar doenças como a miocardiopatia hipertrófica (que origina a síndrome da morte súbita), ou a hipertensão, de uma forma mais rápida e barata”, sublinha a investigadora.
Segura e confiante no sucesso da empresa, que já estabeleceu contratos com hospitais e clubes desportivos – interessados em despistar precocemente a síndrome da morte súbita -, em países como o Brasil ou a Suíça, Ana Freitas lamenta ser tão difícil montar uma empresa em Portugal. Ainda assim, Ana Freitas fugiu da norma e arriscou. E já está a vencer.
A escolha de…José Tribolet – Presidente do Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores
“Tem um percurso de grande seriedade, entusiasmo e empreendedorismo, no sentido da criação de valor. Entrou numa área nova, a bioinformática, criando um produto de grande impacto na Medicina, que já está a ser vendido para vários países.”