Segura-o pelas patas traseiras, como se fosse um coelho, e os guinchos ecoam no montado como se se aproximasse o fim do mundo. Jorge Palma Nobre, 32 anos, mostra a vara de leitões da espécie alentejana que depois do verão serão colocados no campo, para engorda. “Este ano consegui 100 porcos acabados”, conta o agricultor, a mais recente geração de uma família que se dedica à criação desta espécie única da Península Ibérica.
A 350 euros por animal, atingidos os 150 quilos obrigatórios para aguçar o apetite dos matadouros espanhóis que os transformam no apreciado – e caro – Pata Negra, este é o melhor negócio em Ourique. “É a atividade pecuária que aqui mais compensa”, assegura Cândido Nobre, 50 anos, Presidente da Associação de Produtores de Porco Alentejano, ele próprio detentor de uma herdade de 1000 hectares onde o ano passado engordou 750 animais. Na última campanha foram abatidos 15 mil portos alentejanos criados a partir das azinheiras de Ourique. Os agricultores fazem rotação, criando ovinos e bovinos na altura em que não há bolotas no campo e as varas são mantidas nos redis.
Nos solos xistosos da Serra de Santana – esqueléticos, sem água nem as vizinhas jazidas de cobre -, a pecuária é a única saída. A Câmara Municipal herdou uma dívida de 22 milhões de euros. O desemprego, sobretudo feminino, atinge 20% da população. Por isso, o trabalho do campo ficou atrativo: “Já sentimos o regresso de muita gente à terra, à procura na agricultura de uma saída para a crise”, garante Pedro Carmo, presidente da autarquia.
A empresa Montaraz, que transforma porco alentejano em enchidos e presuntos, foi o mais significativo investimento para potenciar o setor. A operar desde 2007, exigiu aos produtores e transformadores um desembolso de 1,2 milhões de euros. Hoje, produzem para as grandes superfícies. Na sala de cura dos presuntos, que podem atingir 200 euros por unidade, cerca de 600 peças esperam a sua vez de chegar ao mercado. “É uma carne saudável, sem gorduras polisaturadas”, explica Rui Carapuça, 52 anos, diretor da Montaraz.
Este ano, a autarquia e a associação de produtores candidata-se à organização de um congresso internacional sobre a produção destes suínos – esperam todos que a iniciativa dê o empurrão definitivo ao setor. E agite a economia do montado.