Pandemia não é só sinónimo de doença. Para o mercado imobiliário significou também revolução e das boas. As casas ficaram mais amplas, com espaços exteriores, com mais luz e mais confortáveis, graças ao uso mais intenso destas características. Mas não só. A noção do tempo precioso e a vontade de o gastar de uma forma plena é hoje mais evidente e isso também se refletiu no imobiliário.
A Porta da Frente/Christie’s que teve um ano recorde em 2022 ao vender mais do que uma casa por dia – mais precisamente 416 imóveis ao longo do ano – apurou as tendências de luxo para o mercado português em 2023 e duas das quatro referenciadas estão intrinsecamente ligadas à vontade de gozar bem o tempo. “O chamado walkability e a vivência de bairro é uma tendência que continuará a crescer e a influenciar a concepção de projetos imobiliários. Os clientes dão cada vez mais valor ao conceito de bairro, onde podem largar o carro e fazer o dia-a-dia a pé, poupando tempo em deslocações. Uma vivência mais sustentável, saudável e económica”, sublinhou Rafael Ascenso, diretor-geral da Porta da Frente/Christie’s, que em 2022 viu o valor-médio das suas transações a situar-se em 1,2 milhões de euros.
Uma outra tendência que tem vindo a consolidar-se desde a pandemia e assim manterá o seu percurso é a procura por tranquilidade e privacidade fora dos grandes centros. Para melhor aproveitar o tempo de forma prazeirosa. “O trabalho remoto e a pandemia trouxeram uma nova forma de viver, atraindo muitas pessoas para fora dos centros urbanos onde podem ter imóveis maiores e com ligação à Natureza. Localizações como Alentejo e Comporta terão cada vez mais interessados para viver um slow-living”, realçou o responsável, acrescentando que “a procura por imóveis com um lifestyle de rio ou mar confirmou-se como uma das principais tendências de 2022, a par com as casas junto ao golfe ou de campo”.
O interesse tem sido tal que estão a ser atingidos valores históricos nas transações e em localizações que em outros tempos não estariam no radar dos investidores. “É o caso do Alentejo que está a ter uma procura crescente junto de quem pode trabalhar à distância e, em simultâneo, gozar uma vida mais tranquila. E as herdades estão a atingir valores históricos. Ainda recentemente, vendemos uma propriedade de 8 milhões de euros em Elvas”, exemplifica o responsável. Também em Cascais, um empreendimento junto ao mar, bateu um preço-recorde: “O Cascais Bay tornou-se o empreendimento com o imóvel em planta mais caro do país – um duplex T4 que foi vendido por 6,7 milhões de euros”, conta o responsável.
Para as tendências do luxo em 2023, a Porta da Frente prevê ainda um bom desempenho dos clientes portugueses – que representaram 55% da faturação da empresa em 2022 – e ainda a consolidação do imobiliário como foco para investimento.
“A subida da inflação e a baixa rentabilidade de produtos financeiros demonstraram que investir em imóveis continuará a ser uma das melhores apostas financeiras, com maior segurança e rentabilidade. Basta fazer contas”, diz Rafael Ascenso. E na escala dos muito ricos, as perdas quando acontecem, traduzem-se em milhares. “Quem tiver um milhão de euros parado no banco, com uma taxa de inflação a 7%, acaba por perder entre 6 a 7 mil euros por mês”, exemplifica ainda.
E desengane-se quem pensa que se está a falar só de estrangeiros. Em 2022, a Porta da Frente/Christie’s faturou 515 milhões de euros referentes à transação de 416 imóveis, um acréscimo de 15% face a 2021. Os portugueses representaram 55% do total e entre os estrangeiros o destaque foi, por esta ordem, para os brasileiros, os russos e os americanos.