Apenas 3% do stock de escritórios de Lisboa tem certificação de sustentabilidade, um número manifestamente baixo quando se sabe precisamente que este mercado é responsável pela emissão de 40% de gases com efeito de estufa. O custo inerente à construção de um edifício verde é invariavelmente o argumento para não se apostar na sustentabilidade. Mas será que não compensa? A consultora JLL fez as contas e apresentou o estudo “Building a New Future With Sustainability”, onde se conclui que “o investimento adicional exigido para implementar medidas de sustentabilidade num edifício não vai muito além dos 5% face ao de um imóvel semelhante onde tais padrões não sejam aplicados”.
Além disso, reforça o relatório, “a própria indústria da construção está a evoluir e os custos para tal investimento tenderão a reduzir à medida que os padrões de sustentabilidade sejam cada vez mais um requisito básico”. Por outro lado, nota a JLL, não investir num imóvel com certificação de sustentabilidade poderá ter um custo futuro muito mais elevado, uma vez que é expetável a depreciação do valor de um imóvel não sustentável no tempo, assim como o aumento da carga fiscal para penalizar edifícios com emissões de carbono excessivas.
“Continua a existir uma perceção errada do custo/beneficio dos edifícios sustentáveis em Portugal, pelo que estes dados são críticos para perceber o impacto financeiro de um ambiente construído mais sustentável e para apoiar as melhores decisões. Este estudo pretende precisamente mostrar que os edifícios sustentáveis fazem sentido não só pelo seu impacto ambiental positivo, mas também porque geram retornos financeiros efetivos: mitigam risco, baixam custos operacionais, aumentam o prémio das rendas e comprimem as yields, assim resultando num maior valor de venda do imóvel”, realçou o diretor geral da JLL, Pedro Lancastre, na apresentação do estudo, acrescentando que a sustentabilidade deve ser uma prioridade e estar em cada fase do ciclo de vida do imóvel, indo muito além da certificação. “E mais do que isso, vai tornar-se a norma no futuro. Não fazer nada já não é opção”, reforçou.
A questão das rendas deveria também ser levada em conta na aposta dos promotores. Citando um outro estudo sobre o mercado de Londres, a JLL realça que há um ganho de 6 a 11% na renda dos ativos com certificação em sustentabilidade em comparação com aqueles que não têm preocupações ambientais. No âmbito dos custos operacionais, a implementação de medidas de sustentabilidade num edifício pode ter também um impacto muito relevante, estimando-se reduções de 25% a 50% no consumo de energia, de 40% no gasto de água e de 70% na produção de resíduos.
Outra vertente é o impacto no desempenho ocupacional dos imóveis. Os edifícios mais sustentáveis estão associados a rendas mais elevadas, menores incentivos e à atração de inquilinos com perfil mais sofisticado, além de haver evidência de menores tempos de comercialização e taxas de disponibilidade mais baixas.
Apesar do cenário atual do parque de escritórios em Portugal ser ainda desanimador quanto à sustentabilidade, há sinais de esperança: segundo o estudo da JLL há uma crescente aposta dos promotores e investidores neste caminho, visto que 58% dos 230.000 m2 atualmente em construção já incorporam certificações de sustentabilidade como o BRREAM, LEED ou WELL.
Um inquérito aos Clientes da JLL na região EMEA, mostra ainda que em Portugal 82% dos operadores ativos afirma ter intenção de avançar no compromisso com a sustentabilidade, uma quota superior à registada para a Alemanha, Espanha ou França.