A polémica torre de 60 metros que estava prevista para o projeto do quarteirão da Portugália, em Lisboa, já não vai avançar. A autarquia, e muito especificamente, o vereador do Urbanismo, Ricardo Veludo, chumbou o licenciamento após quase um ano de acesos debates públicos que envolveram o promotor, o Fundo Sete Colinas e o gabinete de arquitetura ARX que assina o projeto Portugália Plaza com os moradores, encabeçados pelo movimento cívico Stop Torre 60m Portugália e outros organismos como a Associação Portuguesa dos Arquitetos Paisagistas (APAP).
“A conclusão a que chegámos é que não pode haver torres neste quarteirão”, admitiu o vereador do Urbanismo, Ricardo Veludo ao jornal Público, que avança esta manhã com a notícia. Essa discussão, afirma, foi um “aprendizado” para o município repensar a forma de discussão de futuros projetos com a população.
O Portugália Plaza, recorde-se, prevê a construção de quatro edifícios, um deles uma torre envidraçada com 16 andares (que chegou a ter 60 metros de altura mas depois foi reduzida para 49), no generoso quarteirão da Portugália, onde em 1912 foi construída a célebre fábrica de cerveja, no coração da Almirante Reis, mas que há décadas se encontrava devoluto.
O projeto contempla a construção de 85 apartamentos com tipologias entre o T0 e o T4 (a maioria “destinado a famílias e jovens profissionais portugueses de classe média”, segundo os promotores), mais de uma dezena de escritórios e espaços de co-work e ainda uma zona comercial no piso térreo nas duas praças interiores que seriam criadas no empreendimento e pelas quais seria possível circular entre a Avenida Almirante Reis e a Rua António Pedro.
O excesso de volumetria do empreendimento e muito particularmente a dimensão da torre não acolheram, contudo, a aprovação dos moradores que para o contestar se organizaram no” Movimento Stop Torre 60m Portugália.
Para estes cidadãos, a torre projetada descaracteriza a identidade arquitetónica dos bairros envolventes, uma vez que apresenta uma volumetria muito superior à existente e, a ser construída, iria interferir no sistema de vistas dos Miradouros da Penha de França e do Monte Agudo, para além de criar uma significativa área de sombra sobre as casas e ruas circundantes, com consequente impacto na qualidade e vida da população residente.
Também em maio do ano passado a APAP demonstrou publicamente a sua preocupação com a eventualidade de se avançar para a construção de uma torre “numa zona já consolidada da cidade”, criando-se “um precedente de edifícios em altura em zonas consolidadas”.
Nessa altura, o vice-presidente da APAP, João Ceregeiro realçava à agência Lusa, que “a paisagem da cidade” vale pela “leitura do vale e das colinas”, pelo que “estas volumetrias vão destruir progressivamente aquele que é o valor e monumentalidade” que caracteriza a capital portuguesa.
Recorde-se que o projeto foi submetido ao debate público porque pretendia ser enquadrado num regime de exceção devido à altura das fachadas.