A habitação própria é atualmente um problema para a maioria dos portugueses de todas as gerações – para os mais jovens que têm a vida dificultada no acesso ao crédito e para os mais velhos, que chegam à idade da reforma ainda com o crédito à habitação por pagar.
Conclusões do estudo “Habitação Própria em Portugal numa Perspetiva Intergeracional” apresentado esta quarta-feira pela Fundação Gulbenkian e da autoria de Romana Xerez, Elvira Pereira e Francielli Dalprá Cardoso.
Entre as principais constatações desta investigação está a grande sobrecarga que hoje existe com a prestação bancária – “o peso da habitação na despesa anual média das famílias mais do que duplicou em 26 anos” – e, em sentido inverso, acrescenta-se no estudo, verificou-se uma diminuição da despesa pública com a habitação – uns expressivos 42% entre 1995 e 2017.
Mais: “ao contrário das duas gerações anteriores, só uma baixa percentagem de Millennials é proprietária com hipoteca antes dos 30 anos”, registando “as famílias mais jovens uma quebra de riqueza líquida superior a 50% nos últimos anos”.
“Queremos com este estudo avaliar as desigualdades intergeracionais em diferentes áreas de política pública e acima de tudo, promover o debate público”, realçou o responsável pelo projeto da Justiça Intergeracional da Gulbenkian, Luís Lobo Xavier, lembrando que além do estudo agora apresentado centrado na habitação, há outras temáticas em análise no contexto intergeracional envolvendo temas como o ambiente e o mercado de trabalho.
“Entre as conclusões mais marcantes da investigação está a inversão na tendência no acesso à habitação própria das famílias mais jovens, uma tendência que era crescente até 2001 mas que atualmente segue uma tendência decrescente… Provavelmente poderá estar relacionado com o aumento continuado dos jovens adultos (18-34 anos) a viver em casa dos pais, outra constatação do estudo”, resumiu Luís Lobo Xavier.
“ Ao contrário das gerações anteriores, esta nova geração, a dos MIllennials, não está a adquirir casa com empréstimo antes dos 30 anos e entre os vários debates que já fizemos, entre os quais com a banca, tudo indica que não é por falta de vontade… Os millennials podendo, tendo um emprego estável, teriam vontade de adquirir casa própria. Estudos de outras fontes como a do Banco de Portugal mostram que nos últimos anos esta geração mais jovem foi a mais penalizada ao nível de perda de rendimento”, acrescentou ainda o coordenador do projeto.
Entre 2001 e 2011, sublinha-se no relatório, as alterações nas condições macroeconómicas, a crise de 2008 e as mudanças nas políticas de habitação (entre as quais o regime de crédito bonificado para os mais jovens) acabaram por ter repercussões importantes na acessibilidade ao crédito à habitação, tornando este menos viável nos anos mais recentes.
Entre as várias fontes que suportam a investigação (dados Pordata, Banco de Portugal, INE, etc) consta também o Eurobarómetro que num inquérito feito aos jovens europeus (15-30 anos), apresentou também dados relevantes para esta questão. À pergunta “o que leva os jovens a ficarem a viver até mais tarde na casa dos pais” 61,9% dos jovens portugueses responderam que não tinham condições para sair. Entre as outras respostas mais frequentes incluem-se ainda o “conforto do lar” (16,7%), e casarem agora mais tarde (11%), do que era costume.
E se a habitação é hoje um tema complicado para os mais jovens, não deixa de o ser também para a geração mais velha. No olhar que é lançado para a geração mais velha, conclui-se que “os encargos com os empréstimos à habitação tenderão a terminar já depois da idade da reforma”.
“As pessoas só conseguem ter condições para comprar casa cada vez mais tarde e quanto mais tarde pedem o empréstimo, também mais tarde o conseguem pagar. Isto leva a uma situação complicada de pessoas a chegarem à idade da reforma, o que implica sempre alguma perda de rendimento, e ainda terem esse encargo com a habitação para pagar. São conclusões que nos fazem pensar…”, realçou Luís Lobo Xavier, enfatizando a importância de pensar em políticas de habitação que sejam justas para todas as gerações.