A sociedade mudou e a forma de trabalhar também. As empresas que ainda não perceberam isso, correm sérios riscos de perder os seus melhores trabalhadores com todas as consequências que isso acarreta para as organizações. Parte fundamental deste processo de captar e reter talento assenta também no espaço de trabalho que não basta ser funcional mas igualmente acolhedor, estimulante e moldado para pausas mais lúdicas feitas para descomprimir.
Foi precisamente com um espaço assim – os novos escritórios da OLX – que o ateliê Pedra Silva Arquitectos viu o seu trabalho reconhecido recentemente no International Property Awards 2018 com o prémio Best Office Interior.
A multinacional de comércio eletrónico e de gestão de anúncios na Internet, presente em cerca de 120 países, ocupa neste momento 5.000 metros quadrados em dois pisos na zona do Saldanha, no centro de Lisboa. Cerca de 30% deste espaço, uns generosos 1.500 m2, são áreas informais destinadas a pausas, a reuniões mais informais ou locais de recolhimento. Há várias salas destinadas aos intervalos para o café, um refeitório com uma decoração pouco convencional, uma sala para relaxar e até um mini-campo de futebol onde os trabalhadores podem descontrair ao final do dia.
“O espaço em que trabalhamos está definitivamente a mudar e vai mudar muito mais. A arquitetura tem de perceber o que o trabalhador precisa para ser mais produtivo e mais feliz no seu local de trabalho”, sublinha à VISÃO Luís Pedra Silva, responsável pelo ateliê.
A componente tecnológica tão esmagadoramente presente no quotidiano a toda a hora, obriga a criar espaços que permitam uma quebra momentânea para recarregar baterias. “Os arquitetos devem arranjar soluções no espaço de trabalho para tentar esbater o stress provocado por essa ligação permanente entre o trabalho e a vida pessoal. Ora, uma das formas que sabemos que resulta é através da criação de bem-estar que está intimamente ligado à produtividade e à motivação”, reforça ainda o arquiteto.
Para personalizar as diferentes áreas, dar-lhes funcionalidade e torná-las acolhedoras e mais luminosas, foram-se buscar materiais como a madeira de carvalho e o vidro. A estética nos escritórios da OLX, empresa com 300 trabalhadores de 19 nacionalidades diferentes, foi buscar inspiração em elementos tradicionais, uma espécie de partilha de portugalidade neste ambiente multicultural.
Dos azulejos que se transformaram num ex-libris nacional ao burel, a lã utilizada pelos pastores da Serra da Estrela e que nos últimos anos ganhou estatuto na arquitetura de interiores pelo design e pela acústica, são vários os pormenores que podem ser encontradas nos dois pisos da sede da OLX em Portugal.
A empresa, à semelhança de outras multinacionais que estão presentes em Portugal, estão a dar o mote em Portugal para uma tendência que já é global e só mais recentemente se começou a instalar no território nacional. Uma tendência que veio para ficar.
Disso mesmo falou Luís Pedra Silva na intervenção que fez na passada Bienal de Veneza sobre a evolução dos espaços de trabalho. Desde o primeiro escritório, na Idade Média, passando pelos espaços que tiveram de ser criados por altura dos Descobrimentos para fazer o registo das mercadorias acumuladas ao período fervilhante da industrialização, muitas transformações aconteceram nos locais onde passamos o maior número de horas das nossas vidas.
O arquiteto holandês, Herman Hertzberg, terá sido, porventura, o primeiro a perceber a necessidade de tornar mais amigável o espaço de trabalho com consequências diretas na motivação dos trabalhadores. “Foi há mais de 40 anos, nos anos 70, quando ele projetou o edifício da Centraal Beheer (uma companhia de seguros), na cidade holandesa de Apeldoorn. Neste edifício de grande escala, para além dos diferentes espaços criados, ele deixou várias áreas propositadamente vazias ou incompletas, para que as pessoas as pudessem personalizar e criar o espaço de trabalho de acordo com as suas necessidades, o que na altura foi considerado muito arrojado”, conta o responsável. E assim, pela primeira vez, reforça, “o foco deixou de ser a simples maximização do espaço de trabalho e foi antes colocado na psicologia humana e na forma como as pessoas se sentiam quando estavam a trabalhar”.
Uma forma de olhar para as organizações que demorou tempo a implementar-se mas que começa finalmente a globalizar-se.