As guerras em Gaza e na Ucrânia, a migração, a família e a demência são alguns dos temas em destaque nas imagens vencedoras do World Press Photo deste ano. São histórias, contadas atrás de uma lente, de desespero e fome, guerra e perda, mas também perseverança e coragem, amor e sonhos.
“Uma mulher palestiniana abraça o corpo da sobrinha”, do fotógrafo palestiniano Mohammed Salem, foi a imagem do ano eleita pelo júri do World Press Photo e é descrita pelo próprio como um frame de um “momento poderoso e triste que resume o sentido mais amplo do que está a acontecer na Faixa de Gaza”.
Inas Abu Maamar, de 36 anos, estava a embalar o corpo da sua sobrinha Saly, de cinco anos, que foi morta, juntamente com sua mãe e irmã, quando um míssil israelita atingiu a casa onde habitavam, em Khan Younis, Gaza.
O júri do World Press Photo destaca a forma como esta imagem foi conseguida “com cuidado e respeito, oferecendo ao mesmo tempo um vislumbre metafórico e literal de uma perda inimaginável”.
Vencedor na categoria de “histórias”
Em Madagáscar, a demência é um dos grandes problemas que a sociedade enfrenta, mas, ainda assim, as pessoas que apresentam sintomas de perda de memória são frequentemente estigmatizadas. “Esta história aborda uma questão de saúde universal através das lentes da família e do cuidado. Esta seleção de imagens é composta de carinho e ternura, lembrando aos espectadores que o amor e a proximidade são necessários em tempos de guerra e agressão no mundo”, enaltecem os jurados.
Nesta foto, “Dada Paul” e a sua neta Odliatemix preparam-se para ir à igreja em Madagáscar. O homem vive com demência há 11 anos e vive ao cuidado da filha Fara. Esta história faz parte de um trabalho de longa duração de Lee-Ann Olwage sobre a demência.
Vencedor na categoria de “projetos de longa duração”
Desde 2019, as políticas de imigração do México passaram por uma mudança significativa, passando de uma nação historicamente aberta a migrantes e requerentes de asilo na sua fronteira sul para um país que aplica políticas de imigração rigorosas.
Com base na sua própria experiência de migração da Venezuela para o México em 2017, o fotógrafo Alejandro Cegarra iniciou este projeto em 2018. O júri considerou que a própria posição deste fotógrafo como migrante proporcionou uma perspetiva “sensível centrada no ser humano que se centra na ação e resiliência dos migrantes”.
Vencedor na categoria de “formato livre”
No meio de dezenas de milhares de vítimas civis e militares e de um impasse que já dura meses, não há sinais de paz no horizonte para a guerra na Ucrânia.
Enquanto a atenção internacional se desvia para outros lugares, o fotógrafo criou um site que reúne fotojornalismo com o estilo pessoal de um diário para mostrar ao mundo como é viver com a guerra no dia a dia. Este projeto combina imagens com poesia, clipes de áudio e música em colaboração com um ilustrador e um DJ ucraniano.
“Cada um destes fotógrafos vencedores está íntima e pessoalmente familiarizado com os seus temas. Isso ajuda-os a trazerem-nos uma compreensão mais profunda, que, haja esperança, leva à empatia e à compaixão”, comenta a diretora executiva da World Press Photo, Joumana El Zein Khoury.
“O trabalho dos fotógrafos de imprensa e de documentários em todo o mundo é muitas vezes realizado com alto risco. No ano passado, o número de mortos em Gaza elevou o número de jornalistas mortos para um nível quase recorde. É importante reconhecer o trauma que sofreram para mostrar ao mundo o impacto humanitário da guerra”, acrescenta.
No mesmo sentido, a presidente do júri global, Fiona Shields, chefe de fotografia do The Guardian, acredita que “todas as imagens vencedoras têm o poder de transmitir um momento específico, ao mesmo tempo que ressoam além do seu próprio tema e tempo”. “Isto é o que esperávamos encontrar. A nossa Foto do Ano resume verdadeiramente esta sensação de impacto; é incrivelmente comovente de ver e, ao mesmo tempo, um argumento a favor da paz, que é extremamente poderoso quando a paz pode, por vezes, parecer uma fantasia improvável”.