Para os leigos, explicar que CRISPR é o acrónimo para Clustered Regularly Short Palindromic Repeats não ajuda muito. Mesmo a tradução para português, repetições palindrómicas curtas agrupadas e regularmente interespaçadas, é apenas acessível a quem tem alguns conhecimentos de genética.
O CRISPR é um tipo de sequências de ADN encontradas no genoma de bactérias, mas que foram originárias de vírus. Ao “guardarem” partes do ADN do agente infecioso, as bactérias que sobrevivem ao ataque do vírus ganham a capacidade identificar e destruir o invasor em tentativas de infeção posteriores. Para o efeito, o fragmento de ADN guardado é usado para criar um tipo especial de RNA (ou ARN, ácido ribonucleico) denominado “guia RNA”, que identifica e remove parte do fragmento do ADN do vírus invasor.
Regra geral, o acrónimo CRISPR é associado a um outro acrónimo: CAS9, que significa CRISPR-Associated Protein 9. O que resulta em CRISPR/Cas9. É este o conjunto que mais tem sido usado no âmbito da investigação em edição genética. Funciona como um mecanismo de pesquisa e substituição de partes do ADN através do método usado pelas bactérias.
Os cientistas têm recorrido a esta tecnologia para criar “guias RNA” capazes de identificar genes que querem remover ou alterar. Foi o que aconteceu no início de agosto nos Estados Unidos, quando esta técnica foi aplicada a Victoria Gray, uma norte-americana de 41 anos que nasceu com anemia falciforme, uma doença causada por uma mutação genética que altera a forma dos glóbulos vermelhos. A equipa médica removeu células estaminais da medula óssea da paciente e usou a tecnologia CRISPR para levar o ADN a ativar uma proteína específica para produzir glóbulos vermelhos normais.
Victoria Gray terá sido a segunda pessoa a nível mundial com células alteradas através de CRISPR. A primeira foi uma doente na Alemanha que, segundo informações recentes, estará a reagir bem à terapêutica. Ao ponto de já não receber transfusões de sangue há quatro meses, o único tratamento possível antes da intervenção.
É importante porque…
A possibilidade de editar o ADN abre caminho para corrigir mutações genéticas e, consequentemente, tratar várias doenças. Esta técnica tem até o potencial para eliminar doenças genéticas durante a gestação (antes do nascimento do bebé) e até criar proteções contra doenças como o cancro ou a SIDA.
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