No seu esplendor, a tecnologia está a ser amplamente democratizada e tem permitido a milhões de pessoas exprimirem-se e aproveitarem novas oportunidades. No final da década de 70 do século passado, a calculadora de bolso transformou, de uma penada, o Ensino, a Academia e a Contabilidade. Cerca de 20 anos mais tarde, a internet veio simplificar o acesso à informação em qualquer parte do globo, e, no final da década de 90, chegava o smartphone e, com ele, inaugurava-se a conetividade quase omnipresente, onde a informação passou a estar disponível na palma da nossa mão, dando também origem a indústrias novas e revolucionárias.
Cada uma destas tecnologias, essenciais nos nossos dias e responsáveis por mudanças de paradigma quando surgiram, levam-nos a pensar e perguntar de que forma é que o trabalho era realizado e como se vivia antes da sua chegada. Sabem ou conseguem imaginar como era?
No final de 2022, uma nova mudança de paradigma com a chegada, em força, de ferramentas de Inteligência Artificial (IA) capazes de gerar imagem, texto e código e, com ela, assistiu-se a uma disrupção nas indústrias, vemos os reguladores confusos e todos tentam acompanhar o ritmo alucinante desta mudança.
Neste momento, assistimos a uma corrida entre as tecnológicas para encontrar a ‘fórmula mágica’ que contenha uma diferenciação duradoura e acrescente mais valor às propostas para os clientes. Na SAP, consideramos a IA como uma parte fundamental, que levará as empresas para aquilo a que chamamos a Empresa Inteligente – onde o conhecimento e a análise sobre os dados empresariais melhoram tanto os resultados operacionais como os financeiros.
Uma conhecida retalhista alemã utilizou o histórico dos seus dados comerciais, o sentimento dos consumidores, informação financeira e até o estado do tempo para prever melhor a procura nas suas lojas. O resultado? Uma melhoria de 15% na gestão do inventário, uma diminuição de 20% no desperdício e um aumento nas vendas por terem tido os produtos certos nas prateleiras.
Este é o verdadeiro valor da IA para as empresas. Pode não ser tão ‘sexy’ como a arte do Midjourney ou os textos do ChatGPT, mas começam a surgir soluções empresariais reais que, em breve, transformarão a forma como as empresas funcionam. Recentemente, a SAP lançou o Joule, um copiloto IA que permite aos utilizadores das empresas colocar questões complexas e cujas respostas são geradas pelos dados da sua própria empresa. O facto de se basear nos dados da organização reduz consideravelmente a possibilidade de ‘alucinações’ que a IA generativa pode, por vezes, gerar. Um utilizador pode perguntar “Como posso melhorar o desempenho da loja?” e a resposta gerada combina informações sobre produtos, materiais de marketing, stock, padrões de compra, descontos e recomendações de envio, para cada loja.
É claro que existem preocupações (válidas) quanto à forma como as empresas utilizam a IA. É por isso mesmo que é bom ver legislação e regulamentação sobre esta temática (como é o caso da recente Lei da IA da União Europeia), pois só assim será possível gerar confiança à medida que esta nova tecnologia começa a transformar o mundo do trabalho. Já existem sinais de que as primeiras funcionalidades com IA têm sido positivas para as empresas e para os trabalhadores. De acordo com os novos dados do Institute for the Future of Work, mais de dois terços de um universo de 1000 empresas britânicas consideram que a IA melhorou a qualidade do emprego. E, para contrariar as preocupações iniciais sobre o impacto no mercado de trabalho, enquanto pouco menos de metade disse que a IA e a automação tinham eliminado empregos, 67% disseram que tinham criado novos postos de trabalho. Estamos a viver a próxima revolução tecnológica e, ao contrário da era dos smartphones e das redes sociais, parece que, desta vez, estamos numa posição muito melhor para compreender o potencial e as ameaças.
Proatividade para responder ao ritmo da mudança tecnológica
Existem alguns princípios orientadores que podemos utilizar quando desenvolvemos a IA para as empresas. Em primeiro lugar, as tecnológicas devem pensar nos processos mais críticos dos seus clientes para que possam ver como e onde a introdução da IA poderá trazer vantagem competitiva. Em segundo, devem ser capazes de aceder aos dados reais de negócio para que os resultados sejam relevantes para as necessidades dos clientes. Por último, os fabricantes de software de IA devem levar a sério a ética desta. Uma indústria tecnológica responsável centrar-se-á sempre na proteção de dados, e respetiva privacidade e soberania, assim como colocará sempre as pessoas e as suas necessidades no centro dos seus produtos e serviços. Se seguirmos estes princípios, a IA poderá ajudar a transformar a indústria nos próximos anos.
Em inúmeros setores, a IA vai ajudar as empresas a melhorar o seu processo de decisão com base em dados. Os copilotos, como o Joule, irão democratizar ainda mais o acesso à informação, enviando, proativamente, aos utilizadores informações vitais que, anteriormente, teriam de procurar ou obter, por exemplo, na internet.
Esta nova era da IA enriquecerá as empresas e aumentará a sua agilidade. O potencial da IA para lidar com tarefas repetitivas, libertando os colaboradores e as equipas para se concentrarem nos assuntos mais difíceis, será (em breve) um fator de diferenciação competitiva. Penso que deveremos estar todos otimistas e entusiasmados ao embarcarmos, juntos, nesta viagem.