O Facebook decidiu disponibilizar em código aberto o modelo de Inteligência Artificial (IA) desenvolvido pela empresa e que tem como objetivo fazer uma previsão da evolução da pandemia. Para isso, a gigante norte-americana treinou o modelo com dados públicos e tendo por base diferentes fatores – como números de casos confirmados, inquéritos de sintomas, índices de mobilidade, dados de testagem e até de meteorologia.
Agora, este modelo pode ser usado por programadores, universidades, empresas e até entidades públicas de saúde. “Esperamos que seja usado pelas equipas de resposta [à pandemia]”, disse Maximillian Nickel, investigador da unidade de pesquisa de Inteligência Artificial do Facebook, num evento internacional com jornalistas e no qual a Exame Informática participou.
Segundo dados partilhados pela tecnológica, o modelo de previsão do Facebook está entre os que têm melhores resultados, por ter uma menor taxa de erro de previsão e por ter uma qualidade de previsão superior a outros dos principais modelos usados atualmente.
Ainda segundo Maximillian Nickel, o modelo do Facebook é ideal para prever a evolução da Covid-19 a médio prazo – uma, duas, três semanas –, mas não tanto a curto prazo (daqui a três dias, p.ex.) ou a longo prazo (daqui a três meses, p.ex.).
O cientista e investigador da tecnológica norte-americana lembra que apesar de a empresa ter chegado a um ponto em que tem total confiança no modelo ao ponto de disponibilizá-lo publicamente, o caminho para ‘afinar’ o sistema de previsão não foi simples. Além de dados inconstantes e incompletos, a própria Covid-19 evoluiu de forma diferente em diferentes regiões do mesmo país e inclusive de país para país.
“O que se consegue ver é que há diferentes curvas de crescimento em diferentes países. Um dos principais objetivos do projeto era desenvolver um modelo que enfrentasse estes desafios”, acrescentou o porta-voz do Facebook.
Outra situação que ‘mexeu’ com a eficácia do modelo foi o início do processo de vacinação, fase em que a taxa de erro disparou. Mas assim que o Facebook começou a integrar também esta variante de informação no modelo, os resultados melhoraram significativamente. “O modelo é muito orientado por dados. Podemos treinar o sistema para fazer sentido dos diferentes dados e depois traçar uma previsão”, explicou Maximillian Nickel.
O modelo de IA agora lançado pelo Facebook não é, na realidade, novo, estando a ser testado desde março de 2020 com a Universidade de Nova Iorque. Com o desenrolar da pandemia, o Facebook encontrou novos parceiros, incluindo dois europeus que se juntaram ao projeto em outubro do ano passado – a Universidade de Viena, na Áustria, e a Universidade Politécnica da Catalunha (UPC), em Espanha, esta última que tem sido responsável por gerar relatórios da evolução da pandemia para a Comissão Europeia.
Enric ÁLvarez-Lacalle, professor na UPC, diz que o modelo do Facebook já tem sido usado por hospitais da região de Barcelona e atesta que a médio prazo, “a Inteligência Artificial do Facebook tem uma melhor capacidade de previsão”. “E nos hospitais a preocupação é com a próxima semana”, sublinha.