Dificuldades em conter o discurso de ódio em países em desenvolvimento, relutância em censurar organizações noticiosas de direita nos EUA e o reconhecimento de que a plataforma parece estar preparada para espalhar desinformação e conteúdo divisivo são três das conclusões a que os executivos da Facebook chegaram, de acordo com um documento interno datado de 2019. “Temos evidências claras de que as mecânicas de alguns produtos nucleares, como a vitalidade, as recomendações e a otimização para o ‘engagement’ são uma parte significativa de porque é que estes discursos proliferam na plataforma”, lê-se no estudo. “As mecânicas dos nossos produtos não são neutras”, refere também.
Este e outros documentos estão a ser apresentados às autoridades, na sequência das denúncias apresentadas por Frances Haugen e alguns órgãos de comunicação, como o New York Times, estão a obter acesso a versões censuradas dos textos.
Alguns destes estudos mostram que a Facebook tem uma maior dificuldade em conter discursos de ódio e conteúdo nocivo em países onde a língua oficial não é o Inglês. Isto acontece devido à estrutura de moderação e o software não estarem ainda otimizados para todos os idiomas, noticia a Associated Press. No caso do Afeganistão, por exemplo, o algoritmo de moderação conseguiu apenas identificar 0,2% do material nocivo publicado, com o restante a ter de ser identificado pelos moderadores humanos.
Estes documentos mostram ainda que as estruturas internas da Facebook recebiam dezenas de reclamações de funcionários insatisfeitos com a forma como a empresa estava a lidar com determinadas situações, nomeadamente com as queixas de que os anúncios de emprego estavam a conduzir os utilizadores para situações de abuso e tráfico de mão de obra. “Somos FB, não uma startup ingénua. Com os recursos sem precedentes de que dispomos, devíamos fazer melhor”, refere um deles ao Politico.
Zuckerberg já reagiu a esta divulgação, numa conferência com os investidores na segunda-feira, dizendo que, “no meu ponto de vista, estamos a ver um esforço coordenado para usar seletivamente documentos internos para criar uma falsa imagem sobre a empresa”. Um porta-voz referiu que “no centro destas histórias está uma premissa que é falsa. Sim, somos uma empresa e fazemos lucro, mas a ideia de que o conseguimos às custas da segurança ou bem-estar das pessoas é enganadora sobre onde estão os nossos interesses comerciais. A verdade é que investimos 13 mil milhões de dólares e temos mais de 40 mil pessoas com um trabalho apenas: manter as pessoas seguras no Facebook”.