A disputa comercial entre EUA e China acaba de subir para um novo patamar: Donald Trump, presidente dos EUA, decretou esta quarta-feira a interdição legal de compra de equipamentos de telecomunicações de marcas estrangeiras, que sejam suspeitas de pôr em risco a segurança interna. A medida, que se distingue tanto pela gravidade como pelo caráter expedito, é de âmbito genérico, mas ninguém duvida que tem como alvos as marcas de telecomunicações chinesas – e em especial a Huawei, que é possivelmente a marca chinesa mais bem-sucedida no setor.
O The New York Times recorda que a Huawei e outras empresas que costumam trabalhar com a gigante chinesa já foram classificadas pelo Departamento de Comércio como potenciais ameaças para a segurança dos EUA – o que, juntamente com a ordem executiva da Casa Branca, impede-as de participar nos concursos federais e estaduais, e obriga as empresas que fazem encomendas as essas marcas a solicitar a autorização do governo dos EUA.
Apesar da classificação dada pelo Departamento de Comércio à Huawei, a Casa Branca reiterou que a interdição não distingue proveniência ou marcas específicas e que apenas os riscos de segurança serão tidos em conta nesta medida: «Esta administração fará o que for preciso para manter a América em segurança e em prosperidade e para proteger a América de adversários estrangeiros», referiu Sarah Huckabee Sanders, responsável pelas relações com a imprensa da presidência dos EUA, citada pelo The New York Times.
A interdição não deverá ter efeitos retroativos. O que significa que só será aplicada depois de entrar em vigor. O Departamento de Comércio confirmou ainda que o governo dos EUA pretende redigir novas regras relativas às transações levadas a cabo entre empresas dos EUA e fornecedores estrangeiros, que deverão passar a ser alvo de análise das autoridades.
Entre os observadores, não falta quem relacione a tomada de posição do governo dos EUA com o braço-de-ferro comercial e diplomático, que levou tanto os governos de Washington como de Pequim a aplicarem taxas às importações provenientes dos dois países.
A Huawei tem sido um dos alvos preferenciais da diplomacia norte-americana que tem vindo a levar a cabo um périplo por vários países no sentido de os pressionar a abandonar as tecnologias chinesas. Na Austrália e na Nova Zelândia também já foram aplicadas medidas de interdição contra marcas chinesas. A disputa entre chineses e americanos surgiu numa altura em que um pouco por todo o mundo começam a ser instaladas as primeiras redes da quinta geração de telemóveis (5G) – segmento onde a Huawei e também a ZTE ou mesmo a Lenovo têm pretensões em marcar presença.
Na origem deste movimento está a legislação chinesa, que alegadamente obriga as marcas locais a partilhar informação com as autoridades de segurança e os denominados serviços secretos.
A Huawei negou sempre as negações – e recentemente começaram a circular as primeiras notícias que davam conta de que Ren Zhengfei, presidente da Huawei, terá referido à administração que preferia fechar a empresa a ter de colaborar com as autoridades chinesas, caso essa hipótese alguma vez tivesse sido colocada.
Reação da Huawei (atualização)
A Huawei reagiu através de um comunicado indicando «estamos totalmente disponíveis para trabalhar em conjunto com o Governo dos Estados Unidos da América no sentido de encontrar medidas que garantam a segurança dos produtos». O fabricante chinês considera que as decisões das autoridades norte-americanas servirão «apenas para limitar o país a alternativas inferiores e mais dispendiosas, conduzindo a um atraso na implementação do 5G e, eventualmente, prejudicando os interesses das empresas e consumidores». No final do comunicado fica o que parece ser um aviso ao governo de Trump:«acreditamos que a implementação de restrições irrazoáveis pode colidir com os direitos da empresa e levantar questões legais sérias».