Dos portáteis e tablets em 2017 para os desktops e All-in-One em 2018 e para os monitores e acessórios em 2019. Vasco Oliveira, responsável pela área de consumo da Lenovo em Portugal, explica a estratégia da marca para o território nacional em entrevista à Exame Informática. Uma conversa onde também se fala do crescimento de quota de mercado e da aposta forte na área do gaming, por exemplo.
Exame Informática: Qual o balanço que a Lenovo faz do nível de vendas obtido este ano quando comparado com o restante mercado português de consumo?
Vasco Oliveira: O balanço é muito positivo. A Lenovo é, sem dúvida, a marca que mais cresce no mercado nacional e estamos cada vez mais próximos daquela que é a nossa posição natural – somos o número um mundial, andamos taco-a-taco com a HP. A nível de consumo, a Lenovo é já a número dois em Portugal. Há várias consultoras que auditam o mercado de diferentes formas e, por exemplo, no terceiro trimestre a IDC dá-nos 25% de quota de mercado de consumo em Portugal e o número um tem 28%, enquanto o número três tem menos de 20%. Isto comparativamente com há dois anos, onde tínhamos menos de 10% e éramos o número cinco. Tem sido uma evolução muito positiva e, às vezes, até mais positiva do que estávamos à espera.
Quais as principais razões para esse crescimento? É o fator preço? E disputam a liderança em todos os segmentos?
Depende do segmento. Temos um preço médio superior ao mercado, por isso acho que a Lenovo não é uma marca barata. A nossa estratégia é apostar em segmentos que evoluem. Olhamos para o mercado e vemos gaming, que tem um crescimento significativo. Se olharmos para os dados da GfK dos meses de agosto a outubro, vemos que o gaming cresce quase 40% year-on-year a nível de unidades – por isso é que lançamos Legion e continuamos a apostar tanto no segmento. Convertíveis também cresce. Cresce cerca de 30% e fomos nós que inventámos o conceito. Continuamos a apostar e achamos que é um form factor de futuro. Também apostamos muito em ultra-thin. É uma transição a que assistimos: do portátil tradicional com molduras mais generosas e mais pesado para portáteis com molduras mais finas, mais leves, com maior autonomia. Estão a crescer 50% ao ano. Digamos que o portátil tradicional pesava 60%, os ultra-thin pesavam 20%, gaming pesava 10% e convertíveis pesavam 8%, mais ou menos. Agora os ultra-thin estão a roubar imensa quota e já estão a pesar quase tanto como os próprios portáteis tradicionais. O foco da Lenovo tem sido sempre nos form factors que vão ter mais peso no futuro e que são os que os utilizadores mais valorizam. Aliás, a Yoga deixa de ser uma marca exclusivamente de convertíveis para passar a ser uma marca premium da Lenovo. Ou seja, mesmo ultra-thin premium passam a ser apelidados de Yoga. Por isso, vamos passar a ter Yoga S, que são ultra-thin premium, e Yoga C, que são convertíveis.
Estão a prever entrar finalmente no segmento de hardcore gaming?
De certeza que vai chegar no próximo ano. Não posso revelar muitos detalhes, mas chegará no primeiro trimestre de 2019. E na CES vamos apresentar novos Legion focados especialmente no segmento acima dos €1500.
Qual tem sido a adesão do mercado nacional aos vossos periféricos e acessórios?
De uma forma geral, o negócio cresce. A área de monitores e acessórios, para nós, ainda é muito pequena, vale menos de 1% do nosso negócio. O nosso objetivo é que cresça significativamente. Em 2017 focámo-nos no crescimento de portáteis e tablets, que são as categorias que pesam mais de 90% do nosso negócio de consumo: portáteis pesam quase 80% e tablets 17%. Em 2018 focámo-nos em desktops e All-in-One. Em 2019 vamos focar-nos muito em monitores e acessórios. O nosso objetivo é sermos uma referência em monitores, que não somos por a nossa oferta ser diminuta. E o mesmo a nível de acessórios, porque acreditamos que quem compra um Lenovo prefere um acessório da Lenovo em vez de outras marcas. Mas temos muito trabalho para fazer nesse campo.
Portugal tem recebido cada vez mais eventos ligados a eSports. Qual a importância de participarem e patrocinarem estes eventos? É uma aposta para continuar no futuro?
O nosso objetivo é estar cada vez mais presente junto da comunidade. Se a comunidade está em peso presente num evento, nós queremos estar lá para estar com a comunidade e apresentar-lhe o que são os nossos produtos e novidades.
Sentem que têm um retorno real desses eventos?
Sentimos. Não estamos em todos, mas, por exemplo, sentimos que o Lisbon Games Week é um evento de referência para o cliente final, que é o nosso target – os gamers são jovens e já são os compradores de hoje quanto mais os de amanhã… Queremos perceber cada vez melhor aquilo que eles valorizam. Portanto, é um investimento na atualidade e no futuro. Por exemplo, fazemos um sponsorship aos K1ck – não lhe gosto de chamar patrocínio, porque é uma parceria em que há engagement, já que queremos mesmo saber qual é a opinião deles e queremos que eles façam reviews sobre os nossos produtos para melhorarmos e trazer para o mercado nacional produtos que façam mais sentido para o pro gamer em Portugal. Essas equipas são veículos muito interessantes para passar as nossas novidades e mensagem junto das suas comunidades. Só tendo essa proximidade com os utilizadores dos nossos produtos é que conseguimos trazer para o mercado produtos que façam cada vez mais sentido.
Como vêm a chegada de novas marcas ao mercado português? Por exemplo, a Huawei lançou agora um ultraportátil. A Xiaomi talvez venha a entrar no futuro…
A concorrência é normal e salutar. Vemos toda a concorrência de forma muito positiva. Todos os novos players são bem-vindos, muitos deles trazem ideias novas e obrigam-nos a mudar, o que é superpositivo. Vemos com naturalidade a entrada de alguns, assim como vemos com naturalidade a saída ou decréscimo de alguns. Nós temos o nosso caminho e trajeto, mas obviamente que olhamos para a concorrência, para o cliente final, para a experiência, para os nossos produtos – tudo para trazer cada vez melhores produtos e esse é o nosso foco principal, embora nunca descurando a concorrência.
A nível mundial, fala-se da tendência de consolidação do mercado no top 3: Lenovo, HP e Dell. Essa tendência replica-se em Portugal? Com a óbvia nuance da Dell praticamente não estar no mercado de consumo no nosso país. Ou seja, mesmo que haja mais oferta a nível de marcas, o consumidor acaba por concentrar a decisão nos principais dois fabricantes?
A nível mundial, há dados que o demonstram. O top 2 – porque ainda há uma diferença considerável do número 2 para o 3 – tem cada vez maior peso no mercado. Mas mesmo o top 5 tem cada vez maior peso no mercado. A nível de Portugal, como a Lenovo chegou ligeiramente mais tarde, houve um momento em que essa tendência não estava a acontecer, mas, olhando para o curto prazo, é provável que siga a tendência mundial. Para nós, um dos fabricantes de referência, isso não significa que vamos abrandar. Pelo contrário, há muita concorrência e o mercado não é um monopólio ou duopólio, por isso acho que o cliente final pode estar muito tranquilo porque vai continuar a ter muitas promoções e muitos produtos a preços competitivos e tecnologia acessível.