Pode muito bem parecer o clichê, mas dificilmente Alexander Gerst escapa a piadas sobre 2001 – Odisseia no Espaço e o famoso computador falante que dava pelo nome de HAL 2000 e que acabaria por ter um papel determinante em toda a trama. Mas Gerst não é um ator – é mesmo um astronauta. Em junho, parte rumo à Estação Espacial Internacional (ISS) ao serviço da Agência Espacial Europeia (ESA). A descolagem será sempre um grande passo para qualquer humano – mas Gerst, que vai entrar para história como o segundo europeu a chefiar a ISS, já teve a ter de aprender a partilhar o protagonismo com um robô esférico que pesa quase cinco quilos, mas foi desenhado para flutuar na ausência de gravidade ao longo do módulo Columbus da ISS, como se o conhecesse desde que foi construído. CIMON é o nome da bola robotizada. E não, não faz parte de uma experiência de futebol espacial – é apenas um assistente com a inteligência artificial necessária para ajudar o astronauta alemão a executar algumas experiências em ambiente espacial.
Crew Interactive Mobile Companion, ou apenas CIMON para os mais chegados, tem vindo a ser desenvolvido em parceria pela Airbus e o Centro Aeroespacial Alemão como parte integrante da missão Horizons. A IBM, que fornece a inteligência artificial dos supercomputadores Watson para este assistente pessoal, informa que o robô terá como propósito mais imediato levar a cabo algumas experiências com cristais, resolver o cubo de Rubik (ou cubo mágico) e ainda participar num ensaio médico em que deverá atuar como uma câmara voadora.
Este é apenas o princípio: o CIMON foi desenhado para poder aspirar a missões de médio e longo prazo. Depois desta primeira entrada no espaço, o CIMON poderá vir a conhecer outras versões que já deverão estar preparadas para acompanhar pequenas equipas de astronautas durante missões prolongadas.
Em comunicado, a IBM reitera o otimismo quanto à mais-valia que um ajudante robótico poderá ter no espaço: «um assistente espacial, que esteja equipado com inteligência emocional, pode dar um contributo importante para o sucesso de uma missão. Prevemos que os sistemas de assistência deste tipo podem ter um futuro radioso aqui na Terra, em hospitais e cuidados de enfermaria».
Till Eisenberg, um dos líderes de desenvolvimento do novo assistente pessoal, recorda, no comunicado da Airbus, que o CIMON está apto a reconhecer vozes e rostos, mas não perde o foco noutras áreas de estudo que ainda reservam algumas incógnitas: «Queremos estudar os efeitos psicológicos que as missões espaciais mais longas têm nos membros de uma equipa e tentar criar soluções de resposta aplicáveis, especialmente aquela que reduzem o stress. Vamos colocar especial ênfase na análise de dados e as interações entre humanos e inteligência artificial».
Na expectativa dos engenheiros que têm vindo a desenvolver o robô nos laboratórios de Bremen e Friedrichshafen, há a expectativa de que o CIMON consiga ajudar o futuro comandante da ISS nas tarefas do dia-a-dia – assim como a Siri ou Cortana mas com um grau de responsabilidade e com uma precisão bastante superiores, e sem esquecer a relação típica de colega.
O novo assistente espacial está a ser “treinado” para fornecer dicas ou mesmo guiar os astronautas nos procedimentos necessários em várias experiências – que nalguns chegam a ter mais de 100 passos. Os mentores do projeto acreditam que o auxiliar robótico possa incutir uma redução dos níveis de ansiedade ao mesmo tempo que aumenta a eficácia das diferentes tarefas executadas pelos astronautas. Veremos o que diz Alexander Gerst ao cabo de seis meses de convivência com o robô. É que o CIMON está a ser instruído para conhecer os módulos Columbus da ISS, sem deixar de dar especial relevo ao rosto do astronauta alemão e às ordens que escreve ou profere.