John Riccitiello é um nome que dirá pouco à esmagadora maioria das pessoas, mas no mundo do gaming é uma espécie de lenda. Para perceber porquê basta dar uma olhada rápida ao seu currículo: tornou-se presidente e COO da Electronic Arts em 1997; saiu em 2004 para criar o seu próprio fundo de investimento; regressou à EA como CEO em 2007; e foi nomeado chairman e CEO da Unity Technologies em 2014. Tendo isto em conta, é fácil compreender a razão pela qual esta foi uma das conferências do PlayerOne na Web Summit com maior audiência. E a verdade é que a conversa não desiludiu.
Tirando partido do conhecimento transversal que possui da indústria, John Riccitiello falou de praticamente tudo o que está relacionado com gaming e começou pelas mudanças que têm vindo a ocorrer a nível de programação. É que as mudanças drásticas ocorridas nos últimos 5 anos no que diz respeito às ferramentas tornaram possível construir jogos muito mais rapidamente. Contudo, o problema da monetização permanece, o que faz com que os programadores considerem importante chegar a múltiplas plataformas como forma de obter retorno financeiro. Mas, para o líder da Unity, a questão que continua a fazer a diferença na criação dos jogos é a ideia e a criatividade, não a tecnologia.
Passando para o mundo das consolas, John Riccitiello salientou que o ciclo de vida destes equipamentos passou de 4 a 5 anos para 7 anos, o que deu origem ao ‘refresh’ de meio ciclo que estamos a assistir atualmente e que o executivo considera como «uma transição suave por parte da Sony e da Microsoft». Já a Nintendo está num campeonato à parte. Os resultados obtidos com a Switch foram «surpreendentes», mas esta é uma empresa que é movida pela sua propriedade intelectual, enquanto Sony e Microsoft estão mais dependentes de terceiros. «A Nintendo arrisca como quase ninguém o faz na indústria e acho que as vezes em que falhou foi quando tentou ser parecida com os outros.»
Faltava então abordar as três siglas que mais têm dado que falar no mundo das tecnologias: RA, RV e IA. John Riccitiello refere que a Realidade Virtual deverá levar mais de uma década a chegar a mil milhões de dispositivos quando pensamos em computadores e consolas – atualmente, a base instalada de consolas é de 250 milhões de unidades. É por isso que considera que a maior oportunidade está no mobile, pois, neste campo, a RV pode chegar aos tais mil milhões de dispositivos já no próximo ano. O executivo considera que a Realidade Aumentada não é muito diferente da RV a nível de criação de conteúdo, pelo que será natural assistir a uma espécie de fusão das duas experiências, sendo que as aplicações empresariais de RA deverão ganhar tração mais rapidamente do que os jogos. Por fim, John Riccitiello considera que a Inteligência Artificial vai ajudar os programadores na criação de conteúdos e a tornar os jogos mais imprevisíveis para os utilizadores.