No mundo da comédia diz-se que “o timing é tudo” e esse princípio ficou provado na conferência «Irá a Inteligência Artificial salvar-nos ou destruir-nos?». No palco do Web Summit esteve Ben Goertzel da Hanson Robotics, com um chapéu de padrão de leopardo que lhe tapava os olhos, e dois robôs: Sophia, que foi recentemente considerada cidadã da Arábia Saudita – o que levantaria uma questão interessantíssima sobre a possibilidade de votar se estivéssemos a falar de um país democrático –, e o professor Einstein.
A expectativa era elevada e isso notava-se na elevada afluência ao palco principal do Web Summit. Mas o que se seguiu teve um sabor agridoce. A ideia era manter uma conversa bem-humorada a três em palco, mas o diálogo não era fluído e os robôs demoravam sempre um pouco a responder, o que acabava por ser contraproducente. Um exemplo: a uma pergunta de Ben Goertzel, Sophia respondeu com um seco «Sim, vamos ficar com os vossos empregos»… O objetivo era fazer uma brincadeira e mostrar que os humanos se poderiam dedicar a outras atividades e deixar o trabalho para segundo plano, mas o sorriso forçado e a falta de entoação fez com que a afirmação não fosse recebida dessa forma, como se pôde comprovar pela ausência de gargalhadas da audiência.
As próprias interações ou discussões entre os dois robôs pareciam pouco naturais, já que as respostas de um às provocações do outro eram sempre demoradas. Contudo, o professor Einstein conseguiu levantar uma questão deveras pertinente ao afirmar que os robôs serão capazes de integrar os valores humanos, embora reconheça que isso possa ser um problema e não uma solução.
A grande novidade desta conferência acabou por ser o anúncio da Singularity Net, uma plataforma aberta com blockchain onde qualquer programador de Inteligência Artificial pode colocar os módulos com capacidades específicas que criou. O objetivo é que se possam juntar todos os conhecimentos diferentes para criar uma IA melhor, já que permite aos robôs irem buscar mais informação à Internet. Ben Goertzel salientou que quer que todos possam contribuir e retirar proveitos da Singularity Net, pois esta plataforma pretende ser diferenciadora por não pertencer a nenhuma grande empresa.