No cinema, não faltam guiões que começam com “rapaz conhece rapariga”. Nos conteúdos, o guião mais comum é quase igual: “operador de telecomunicações compra produtor de conteúdos”. Desta vez calhou à AT&T e à Time Warner encarnarem os dois famosos papéis. A AT&T vai desembolsar 85,4 mil milhões de dólares (77,6 mil milhões de euros) para comprar a Time Warner.
De acordo com a Cnet, o negócio que está já classificado como um dos mais chorudos alguma vez realizados nos EUA. Metade do valor acordado será transacionado em dinheiro e a outra metade em ações. A AT&T compromete-se a fazer a transação tendo como valor de referência 107,5 dólares. A operação só deverá ficar encerrada no final de 2017.
Para a administração da AT&T há a expectativa de fazer desta aquisição uma “comédia romântica” em que todos acabam felizes no final, mas na memória de investidores e Bolsa de Wall Street mantém-se o “filme de terror” das anteriores núpcias do grupo Warner, que também começou por bater recordes no que toca aos valores de transações que tinham sido efetuadas até ao início do milénio. Dessa vez, foi a AOL a pretendente da gigante dos conteúdos, que tem os célebres estúdios da Warner Bros e da HBO (sim, os da Guerra dos Tronos), e ainda da CNN e de muitos outros canais de TV. Com a fusão, acreditava-se que a Time Warner haveria de acelerar ao ritmo da Internet de onde vinha a AOL.
Em 2009, verificou-se que essa previsão tinha tanta razão de ser como aquela que dez ou 15 anos antes levara algumas pessoas a dizer que a Internet haveria de matar a TV e também o cinema. E a AOL saiu da fusão ainda no final da década passada.
Entre 2009 e a atualidade, a Time Warner manteve a aura de diva que até pode ter gostos e gastos chorudos, mas funciona como um dos epicentros do poder nos EUA e no mundo, devido a uma apreciável capacidade para moldar modas, preconceitos e desejos de centenas de milhões de pessoas.
Randall Stephenson, CEO da AT&T, seguramente que terá lido todos os capítulos do drama romântico com que se deparou a AOL quando tentou arrebatar o coração da Time Warner, mas mantém a confiança em aproveitar esta fusão para disponibilizar «uma experiência bastante diferente aos consumidores». Jeff Bewkes, CEO da Time Warner, classificou o negócio como «um grande reforço da nossa capacidade criativa».
Durante a semana passada foram vários os rumores e notícias que davam conta do interesse ou mesmo das negociações entre os dois gigantes norte-americanos. Dois anos antes, foi a vez da 21st Century Fox de Rupert Murdoch tentar arrebatar a preferência da Time Warner – mas em vão.
Com a aquisição da Time Warner, a AT&T pode ter encontrado uma ferramenta importante para acompanhar novos hábitos dos consumidores de conteúdos que aprenderam a ver o que querem, quando querem e no ecrã que quiserem, mas também angaria uma importante arma para fazer frente ao poderio protagonizado pela Comcast depois da compra do estúdios NBC, em 2011.