E agora para algo completamente diferente desde que há Pokémon Go: as ações da Nintendo registaram uma queda de 17,7% esta segunda-feira depois de a produtora de videojogos ter confirmado que afinal a tal pokemonomania vai ter um impacto diminuto nas contas anuais da companhia. A sessão de segunda-feira (Tóquio está oito horas à frente de Lisboa no fuso horário) terminou com o valor de cada ação da Nintendo fixado nos 23.220 ienes (cerca de 198 euros).
Foi a maior queda bolsista alguma vez registada nos títulos da Nintendo desde 1990. A Reuters revela ainda que a desvalorização alcançou mesmo os cinco mil ienes que estão fixados, por questões de proteção de investimento, como máxima desvalorização diária que os títulos bolsistas podem registar num único dia.
Na origem desta desvalorização súbita terá estado uma simples frase emitida pela Nintendo para os investidores: «Tendo em conta a atual situação, a empresa não pretende mudar, para já, as previsões do balanço financeiro consolidado», referiu um relatório da companhia citado, pela Reuters.
A Nintendo prevê fechar o ano financeiro em março com um aumento de 37% nos lucros operacionais, que deverão chegar aos 45 mil milhões de ienes (cerca de 385 milhões de euros).
Apesar da expectativa de lucro, o anúncio da Nintendo terá produzido um efeito de anticlímax nos investidores: depois do lançamento de Pokémon Go, a 6 de julho, o valor bolsista da Nintendo mais que duplicou – a ponto de superar o valor da rival Sony. Agora, a quebra a abrupta levanta a questão: será que a tendência negativa vai continuar a amanhã? Só mesmo o mercado poderá responder às questões que os investidores estarão agora a colocar sobre uma companhia que passou de campeã a lanterna vermelha do índice Nikkei num só dia.
Com o Pokémon Go, a Nintendo cortou, por via indireta, com um passado de recusa na conversão dos respetivos jogos em apps que correm em telemóveis. Este posicionamento, apesar do anacronismo evidente, tinha um argumento válido: a histórica marca de videojogos não podia deixar “cair” a unidade de fabrico de consolas e respetivos acessórios, que ficaria estrategicamente isolada, caso a Nintendo enveredasse pela venda de videojogos.
Aparentemente, a Nintendo não pôde travar a evolução dos tempos – ou pelo menos, não teve o poder efetivo para o fazer. A Pokémon Company, que detém a série de animação com mais de 200 personagens, é apenas detida a 30% pela Nintendo. Em contrapartida, o jogo foi criado pela Niantic, uma empresa que já pertenceu à holding da Google, mas hoje opera por conta própria – e tem vindo a ser distribuído por Google e Apple.
Entre os analistas, há quem simplifique, depois de apuradas as relações contratuais entre os vários intervenientes, a repartição das receitas provenientes do Pokémon Go da seguinte forma: Apple e Google deverão receber 30% do valor, por via das comissões cobradas pela venda de aplicações na Play e na App Store; Niantic deverá receber 30% por ter produzido o jogo; a Pokémon Company deverá ficar com 30% por ser detentora dos direitos da série animada; e a Nintendo não deverá receber mais de 10% dos valores em causa.