
As contas de Ricardo Costa são fáceis de fazer: «andámos a ver as edições anteriores, mas não descobrimos mais nenhuma startup portuguesa que alguma vez tenha participado na aceleradora do festival South By Southwest (SXSW)». O SXSW realiza-se anualmente em Austin, EUA. Se não é o principal evento criativo do mundo, andará lá perto. Para Ricardo Costa é uma oportunidade de ouro de dar a conhecer a Loqr em solo americano: «Temos a expectativa de fazer um bom papel; gostaríamos de ganhar, mas a concorrência é feroz».
A Loqr entrou na aceleradora do SXSW garantindo um lugar na categoria de Fintech (tecnologias para a área financeira) como única startup criada por não americanos. Na bagagem, a empresa minhota leva uma solução de identificação que combina vários mecanismos e tecnologias. Hoje, a app da Loqr está disponível em duas versões: uma para o consumidor final que já foi descarregada mais de mil vezes; e uma versão para empresas que está disponível para mais de 20 mil potenciais utilizadores do Politécnico do Porto.
O mercado da segurança eletrónica é concorrido – e especialmente complexo. O que não impede Ricardo Costa de querer garantir um lugar nesse cenário dominado por ataques, alertas e ocorrências melindrosas. «A banca já paga para ter autenticações que geralmente são inseguras e aborrecidas para o utilizador. O nosso objetivo é criar uma solução que seja mais segura e também mais amiga do utilizador. Pode ser algo que exija a impressão digital ou olhar para a câmara do telemóvel, mas será sempre algo que respeita as normativas (de segurança)», explica o mentor da Loqr.
Na modalidade para o consumidor, a Loqr recorre a QR codes como forma de autenticar um utilizador num site, ou numa app ou num software. Em março, deverá ser lançada uma nova versão que tornar os QR Codes numa de várias opções para fazer a autenticação. «Também vai ser possível usar funcionalidades que recorrem a notificações automáticas, NFC, Wi-Fi, 4G ou Bluetooth. A única condição é haver um acesso à Internet», explica Ricardo Costa.
Como seria de esperar, a modalidade para empresas é mais completa – e ao contrário da versão para o consumidor, é paga. Além dos mecanismos de autenticação disponíveis na versão para o consumidor, a a solução empresarial deverá contar com funcionalidades de reconhecimento facial ou a inserção de impressões digitais. Os dados biométricos poderão revelar-se potenciais substitutos das passwords e tokens usados nas contas bancárias online, mas deverão ser complementados por outras ferramentas: «Podemos usar funcionalidades de machine learning e análise de risco, que permitem distinguir o utilizador pela localização ou pela forma como interage com o telemóvel», acrescenta Ricardo Costa.
O mentor da Loqr está convicto de que as soluções de autenticação não se esgotam nos serviços bancários online: «Estas tecnologias também podem ser usadas para abrir uma porta de casa ou ligar um carro», sublinha.
Tirando partido desse pequeno mas poderoso computador que anda nos bolsos de quase todos os portugueses, a Loqr já tratou de trabalhar numa futura diversificação, com o desenvolvimento de um protótipo que permite levantar dinheiro de uma caixa ATM, depois de um telemóvel enviar um comando por NFC. O protótipo ainda terá de evoluir até conseguir chegar ao mercado, mas seguramente poderá figurar no portfolio da startup minhota como uma prova de capacidade tecnológica. «Estamos atualmente em conversação com uma entidade bancária que poderá ajudar-nos a chegar a centenas de milhar ou milhões de utilizadores», informa Ricardo Costa.
Há seis meses, a Loqr era apenas uma ideia de startup que pretendia tirar partido da experiência que Ricardo Costa, José Dias e Jorge Silva acumularam na área da segurança eletrónica para lançar um produto de âmbito internacional. Hoje, a jovem empresa já conta com o investimento de um business angel, está sedeada na Startup Braga e conta com sete funcionários. Ricardo Costa está apostado em garantir as certificações necessárias que poderão tornar a empresa minhota uma referência no setor bancário. A este objetivo junta-se um segundo: «queremos concluir uma segunda ronda de captação de investimento até ao final do ano».