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Quantos computadores existem em organismos do Estado a correr Windows XP? A questão não é propriamente fácil, e nem a Agência para a Modernização Administrativa (AMA), que assume funções de validação dos investimentos que as entidades estatais fazem ao nível das tecnologias, está em condições de o responder: «As competências e atribuições da AMA não lhe permitem ter um panorama global a este respeito», responde a AMA, através de um e-mail enviado para a Exame Informática.
A resposta da AMA permite confirmar que só inquirindo cada ministério, e respetivos organismos tutelados, será possível saber, eventualmente, o número de computadores que ainda funcionam com o sistema operativo que a Microsoft pretende descontinuar a partir de 8 de abril. Sem saber o número de máquinas que correm Windows XP também se torna difícil saber qual o volume de investimentos que o Estado vai fazer com a migração para outros sistemas operativos alternativos.
«A responsabilidade deste tipo de política de gestão de software na Administração Pública compete a cada organismo com licenciamentos em curso. No momento presente, não existe uma entidade com a responsabilidade pela gestão operacional do software de toda a Administração Pública», reitera a AMA.
José Tribolet, presidente do INESC e um dos conselheiros nomeados pelo atual Governo para o Plano Global Estratégico de Racionalização e Redução de Custos nas TIC (GPTIC), é taxativo: «Não é admissível que o Estado Português não saiba quantos computadores tem a correr o Windows XP. Eventualmente, há um conhecimento desses números em cada local, mas não se sabe como é que cada local gere esses computadores e qual a lógica que é seguida».
José Tribolet lembra que há cerca de dois anos e meio o GPTIC e a AMA tentaram levar a cabo um levantamento de todos os recursos técnicos e humanos usados pelos vários departamentos de informática da AP, mas o processo de recolha de dados acabou por ser interrompido pela Comissão Nacional de Proteção de Dados (CNPD), com o objetivo de apurar uma eventual violação da privacidade dos cidadãos e profissionais do Estado.
«O processo foi feito em oito ministérios e depois parou… e há um ano e meio que estamos à espera de uma deliberação da CNPD que permita saber se a AP tem ou não o direito a saber quais os recursos que estão disponíveis. Sem saber que recursos existem, torna-se impossível gerir esses mesmos recursos», refere o líder do INESC.
José Tribolet recorda que o GPTIC tinha definido como meta realizável poupanças de 500 milhões de euros anuais em tecnologias adquiridas pelo Estado. O responsável do INESC sublinha que a interrupção do levantamento do parque informático produz efeitos no orçamento do Estado, uma vez que poderá estar a atrasar a implementação de medidas de racionalização de custos. «Acredito que a CNPD tenha fundamentos muito válidos sobre este assunto, só que eu nunca os vi», acrescenta Tribolet.
XP = um terço dos PC?
Nuno Ricardo, gestor de Produtos Windows para o segmento empresarial na Microsoft, também não dispõe de um número detalhado e, por isso, recorre a estimativas de consultoras independentes: «Em novembro de 2013, a IDC revelou que, nas empresas e no setor público, o Windows XP tinha uma quota de mercado de 30%».
Como seria de esperar, Nuno Ricardo alinha com o discurso que a Microsoft tem feito chegar junto dos clientes empresariais: «30% de computadores com Windows XP é um número superior ao desejável. A maioria das organizações portuguesas já está a migrar o Windows XP, mas não será a 8 de abril que vai acabar essa migração. Acreditamos que, no final de 2014, a maioria das empresas e dos organismos da administração pública já terão migrado quase todas as suas máquinas».
A Microsoft tem vindo a aconselhar as empresas e organismos públicos a migrar para versões mais recentes do Windows. A campanha de sensibilização tem propósitos comerciais, mas também contempla questões relacionadas com a segurança das redes informáticas.
«A primeira coisa que temos de lembrar é que vamos continuar a disponibilizar todas as atualizações que foram lançadas até 8 de abril, (apesar de não serem lançados mais updates depois dessa data). Mas há formas de mitigar riscos. A solução pode passar pela existência de um antivírus atualizado ou pela redução dos contactos que é possível estabelecer na Internet», refere Nuno Ricardo.
Que riscos pode ter a manutenção do Windows XP na Administração Pública? Pedro Fortuna, diretor de Tecnologias da Auditmark, responde da seguinte forma: «Evidentemente, não é recomendável, mas também já não era antes. O XP tem um histórico de vulnerabilidades bastante grande e se não tiverem sido feitas as atualizações do Service Pack 2 ou Service Pack 3 é extremamente fácil entrar numa das máquinas com XP, até de forma quase recreativa. Se se garantir que as máquinas com o XP têm as atualizações todas instaladas, já será um mal menor».
Rui Miguel Silva, professor do Instituto Politécnico de Beja e coordenador do laboratório de Segurança Informática e Cibercrime Ubinet, confirma que o XP, por se encontrar em vias de descontinuação, é um sistema operativo vulnerável: «O XP tem vários exploits que são há muito conhecidos».
Sobre o facto de a AP desconhecer quantas máquinas correm XP, o perito do Politécnico de Beja refere: «Seria bom que se soubesse quantas máquinas funcionam com o Windows XP, porque é, reconhecidamente, um sistema operativo vulnerável».
Os riscos inerentes ao uso do Windows XP não terão sido suficientes para desencadear um plano de contingência na Administração Pública: «Apesar das competências e atribuições da AMA não lhe permitirem ter um panorama global a este respeito, não temos conhecimento ou indícios de qualquer alarme sobre esta questão. De qualquer modo, parece-nos que a responsabilidade por esta questão será naturalmente partilhada pelo fornecedor e pelo cliente (organismos da Administração Pública)», informa a AMA.
A AMA informa ainda que a AP tem vindo a tomar medidas que poderão evitar situações de risco. A adoção de normas abertas, a imposição de estimativas de custo total de propriedade do software ou mesmo o Regulamento Nacional de Interoperabilidade Digital, que fixa requisitos de interoperabilidade, segurança e robustez das aplicações usadas na AP são alguns dos exemplos apresentados pela AMA como medidas que reduzem os riscos inerentes à manutenção ou ao abandono do XP.
Apesar de a descontinuação do Windows XP ser o principal objetivo, a Microsoft já assinou acordos de manutenção e atualizações à medida para alguns clientes de grande porte que usam o Windows XP em Portugal. Por questões comerciais e legais, a Microsoft não revela se esses clientes são empresas privadas ou organismos estatais. Para os clientes que não estão preparados para investir na compra de computadores novos, a Microsoft disponibiliza ainda tecnologias de virtualização que permitem correr, remotamente, um sistema operativo mais avançado através de computadores pessoais antigos.
Em paralelo, prosseguem os processos de migração “pura e dura” em várias empresas e instituições portuguesas. Nuno Ricardo dá o mote: «A primeira coisa que aconselhamos é: saiam do XP; a segunda coisa que dizemos é: instalem o Windows 8. Se já tiver o Windows 7 instalado, facilmente faz a integração com Windows 8».
O Windows XP estreou no final de 2001. Segundo algumas estimativas de consultoras, uma percentagem residual da população continuará a usar este sistema operativo em 2017.