Pela primeira vez, um CEO da Apple exigiu a um órgão de comunicação social que se retratasse de uma notícia. Depois de negar formalmente o uso de servidores que, alegadamente, têm integrados chips espiões, foi a vez de Tim Cook, líder da Apple, solicitar à Bloomberg Businessweek que se retratasse, a fim de dar a conhecer uma versão diferente daquela que inicialmente publicou a 4 de outubro. «Eles (Bloomberg BusinessWeek) têm de fazer as coisas bem e retratarem-se», disse o CEO da Apple à Buzzfeed. Em paralelo com as palavras de Tim Cook, a Apple enviou para o Congresso dos EUA, que é composto por senadores e representantes dos diferentes estados, a desmentir a reportagem da Businessweek.
A primeira reação dos destinatários não parece ir ao encontro das palavras de Cook e da Apple: «A investigação da Bloomberg Businessweek é o resultado de mais de um ano de reportagem, durante o qual conduzimos mais de 100 entrevistas», respondeu o órgão de comunicação social num comunicado, que lembra que o mais recente escândalo do setor da cibersegurança tem por base as revelações levadas a cabo por 17 fontes da área empresarial e governamental. «Mantemos a nossa versão e mantemo-nos confiantes na nossa reportagem e nas nossas fontes», acrescentou o órgão de comunicação do grupo Bloomberg.
Na reportagem publicada a 4 de outubro, a Bloomberg Businessweek revelou que os servidores usados por uma produtora da software de compressão de vídeo terão instalados chips minúsculos, que permitem extrair informação e dados para uma alegada rede de espionagem. O “caso” teve início em 2015, depois de a Amazon ter começado a analisado a eventual compra a Elemental – cujo software de compressão de vídeo já tinha demonstrado capacidade tecnológica ao serviço da CIA, em transmissões de Olimpíadas ou até nas comunicações com a Estação Espacial Internacional (ISS).
A intenção de compra levou a Amazon a proceder a uma auditoria de segurança a uma entidade independente. Para isso, a gigante do comércio on-line enviou vários servidores para análise no Canadá. O software de compressão de vídeo foi criado pela Elemental, mas o hardware tinha sido montado pela Supermicro Computer.
Os resultados da auditoria de segurança permitiram detetar pequenos chips alegadamente espiões nos vários servidores que a Supermicro montou para correr o software da Elemental. A deteção misteriosos chips foi, de seguida, comunicada às autoridades dos EUA que, segundo a Bloomberg Businessweek, mantém a decorrer as diferentes diligências passados três anos. Já terão sido contabilizadas quase 30 entidades que usam servidores da Elemental-Supermicro. Entre elas, figuram a Apple, que terá ponderado uma encomenda de mais de 30 mil servidores, mas acabou por desistir do investimento, alegadamente, por também ter detetado chips espiões nos servidores. Hoje, o único indício de que algo poderá ter corrido mal com os servidores usados pela Elemental é o suposto corte de relações entre Apple e a Supermicro. Também há registo de um banco e de barcos da Marinha dos EUA, que alegadamente usam sistemas montados pela Supermicro e que, eventualmente, terão chips espiões integrados.