A Marinha Real Britânica (Royal Navy) testou pela primeira vez um sistema de navegação quântico, um que explora as propriedades da física quântica para criar uma ferramenta de geolocalização de elevada precisão e em teoria mais segura do que os sistemas de navegação por satélite (GPS).
O sistema de navegação quântico funciona através de um método conhecido como interferometria atómica. No caso do sistema testado pela marinha britânica, cerca de mil milhões de átomos de rubidium-87, um isótopo do rubídio, um elemento químico metálico, estão fechados dentro de uma esfera metálica, cujas temperaturas internas ficam muito próximas do chamado zero absoluto (273,15 ° centígrados negativos, mais frio do que o espaço sideral). Os átomos são depois atingidos com lasers por forma a serem estimulados, que os coloca num estado de sobreposição quântica – no qual estão parados e em movimento em simultâneo. Depois, cada um dos estados dos átomos reage a elementos como a gravidade e aceleração. A medição da reação dos átomos é o que permite depois medir distâncias, velocidades e, no global, a posição e movimentação do navio.
O intrincado sistema descrito, batizado de acelerómetro quântico, é depois encaixado numa estrutura com um tamanho de um frigorífico, que por sua vez é guardada dentro de uma caixa de dimensões superiores, dentro da qual também existem computadores para fazer a análise dos dados e estimar a posição do navio. Como as partículas em estado quântico são muito suscetíveis a interferências externas, todas as camadas de proteção do mundo exterior são essenciais para manter as medições o mais precisas possível.
Sistema de navegação quântico: Uma alternativa ao GPS
Uma das grandes vantagens teóricas, sobretudo a nível militar, da utilização de um sistema de navegação quântico é a menor propensão a ataques (estando o sistema no navio, só um ataque ao próprio navio teria impacto na ferramenta). No limite, um sinal de GPS, por ser comunicado a partir da triangulação de satélites, pode ser interrompido, se por exemplo for feito um ataque (físico ou informático) ao sistema de GPS.
“É por isso que a capacidade de ter uma nova e inovadora forma de traçar com precisão, muita precisão, a tua posição é fundamental para a forma como a Marinha Real Britânica e os militares operam”, sublinhou o coronel Tom Ryan, responsável pela Navy X, a divisão de pesquisa e desenvolvimento da marinha britânica, em declarações à Sky News.
Apesar de a marinha não confirmar essa hipótese, um sistema de navegação quântico também poderia ser usado em submarinos, veículos nos quais o sistema GPS não funciona quando submersos.
Atualmente, o dispositivo testado pela marinha britânica é capaz de medir a posição do navio a cada segundo. Apesar do teste agora realizado, não foi dada qualquer indicação sobre o nível de precisão atual da tecnologia, com o grande objetivo da experiência ter sido perceber como se comporta um acelerómetro quântico quando exposto às condições reais de navegação.
A tecnologia foi testada a bordo do navio experimental XV Patrick Blackett e desenvolvida por investigadores do Imperial College of London.