Miguel Pais-Vieira é o investigador luso que faz parte da equipa que está a estudar um novo método para que doentes com lesões na medula espinal possam ter a sensação de caminhar. Para esse efeito, a equipa propõe uma interface ligada ao cérebro do paciente e que combina depois realidade virtual com feedback térmico e tátil.
O objetivo do estudo é introduzir sinais altamente realistas e multimodais de realidade virtual para que os pacientes consigam ‘levar o seu cérebro’ a sentir que está a caminhar, explica o comunicado de imprensa da Universidade de Aveiro. Miguel Pais-Vieira, do Instituto de Biomedicina daquela instituição, afirma que “quando temos uma pessoa que está a caminhar, a atividade cerebral dela está a ser registada. Nós descodificamos essa informação através de algorítmicos estatísticos, enviamos essa ordem ao avatar que está no cenário de realidade virtual e ele começa a caminhar”. No final dos testes, os pacientes relataram que sentem o movimento das pernas do avatar como se fossem mesmo as suas.
A utilização da realidade virtual neste contexto ajuda a pessoa a habituar-se novamente à ideia de caminhar, criando um mapa mental desse exercício e “quanto mais real a experiência for para o cérebro, mais neuroplasticidade parece haver”, ou seja, aumenta o potencial de reabilitação do sistema nervoso.
No estudo, a utilização de mangas térmicas conferiu um maior realismo à sensação, simulando-se cenários de praia, campo ou montanha e os pacientes a sentirem a temperatura de acordo com os locais que viam em ambiente digital. O investigador explica que “o cérebro começa a correlacionar múltiplas pistas ficando o utilizador com a sensação de que o corpo do avatar faz parte de si e é controlado por si”.
Este estudo procurou ainda aferir se este tipo de interface pode causar algum desconforto no paciente ou até mesmo dor. Nos vários testes, o paciente em questão não teve qualquer dor, nem apresentou sinais de desconforto ou efeitos adversos, o que abre caminho a que possam ser realizados mais testes e com maior complexidade.
O artigo sobre o grau de conforto e esta proposta foi publicado na Frontiers in Human Neuroscience.