Há uma versão melhorada do Modelo de Circulação Geral de Vénus (VGCM, da sigla inglesa) onde supercomputadores simulam com a maior resolução de sempre a atmosfera de Vénus até uma altitude de 150 quilómetros. Esta reprodução permite aos investigadores replicar fielmente as observações científicas recentes e revela detalhes que podem ajudar a explicar algumas das muitas incógnitas do planeta gémeo falso da Terra. A simulação foi de início desenvolvida em França e corre atualmente em supercomputadores daquele país, mas também em Portugal, EUA e Canadá.
Os resultados das observações foram publicados em dois artigos na revista científica Icarus, com coautoria e liderança de Gabriella Gilli, do Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço (IA) e da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa. Os estudos centraram-se nas altitudes entre os 80 e os 120 quilómetros, uma região considerada altamente variável e com ventos de grande potência do nível das nuvens e da termosfera. Além das simulações do VGCM, a investigadora cruzou também o modelo com observações da sonda Venus Express, da Agência Espacial Europeia e de telescópios na Terra para perceber melhor a ‘ignotosfera’, termo usado por alguns especialistas para sublinhar a falta de conhecimento e medidas daquela região.
Os trabalhos agora publicados mostram detalhes nunca antes simulados e exibem uma atmosfera noturna altamente variável, confirmada pelas simulações. A versão melhorada do VGCM permite a primeira simulação numérica que representa vários fenómenos naquele planeta.
Thomas Navarro, da UCLA e McGill University, é o outro primeiro autor e coautor destes estudos, explica que o dia e a noite em Vénus são de facto radicalmente diferentes porque o planeta roda muito devagar: “um dia em Vénus é muito longo, cerca de 117 dias terrestres, com implicações na distribuição da radiação solar (…) o lado noturno é tão frio que foi chamado de ‘criosfera’ acima dos 100 quilómetros. Um forte gradiente de temperatura e pressão entre o dia e a noite produz ventos fortes, mais rápidos que as ondas sonoras, características da circulação dia-noite dessas camadas superiores, movendo-se do meio-dia para o lado noturno”, cita o comunicado de imprensa.
Os resultados publicados pedem agora por mais observações do invólucro atmosférico exterior do planeta, como a alta mesosfera e a termosfera. Está prevista uma missão espacial a Vénus para daqui duas décadas, mas, entretanto, os telescópios da Terra podem monitorizar as abundâncias de marcadores dinâmicos (compostos químicos) e mapear os ventos e temperaturas.