A empresa que está mais avançada no cultivo de canábis em Portugal prevê colher as primeiras plantas no final do verão e já reuniu com os peritos do Campus Tecnológico e Nuclear (CTN), na Bobadela, Loures, onde o produto será descontaminado, já depois de seco e embalado.
Tem sido demorado o processo de autorização de produção e de comercialização de canábis. Depois de alguma pressão por parte de empresas e movimentos de cidadãos, a atividade de produção de canábis para fins medicinais acabou por ser legalizada a 15 de janeiro de 2019. Um ano depois, em janeiro deste ano, a Autoridade Nacional do Medicamento (Infarmed) já tinha autorizado cinco empresas a cultivar, importar e exportar a planta da canábis para fins medicinais, numa área total de 120 hectares.
Após serem colhidas e secas as extremidades da planta, o produto é embalado. Mas antes de poder ser comercializado tem de passar por um sistema de descontaminação. O único sistema adequado a este tipo de produto é o da radiação eletromagnética, que pode ser por emissão da raios gama ou eletrões.
No CTN, que pertence ao Instituto Superior Técnico, existe o único sistema de esterilização por emissão de raios gama, e é aqui que vem parar toda a produção da empresa portuguesa. Nestas mesmas instalações também são tratadas pomadas, rolhas, próteses e até frascos de tomate. “A radiação gama destrói as cadeias de ADN, matando os organismos vivos”, explica o responsável pelo Laboratório de Aceleradores e pela Unidade de Radioesterilização , o físico nuclear Eduardo Alves. “A grande vantagem do sistema é que a desinfeção pode ocorrer com o material já embalado”, continua.
No Campus Tecnológico e Nuclear usa-se radioatividade para eliminar microorganismos. A tecnologia é usada para tratar medicamentos, plantas e embalagens de comida
Para a planta da canábis, o material tem de estar exposto à radiação durante duas a três horas, o que garante a eliminação de todos os organismos vivos que estejam a colonizar a planta. “A empresa está a apostar num sistema de produção biológico, quase sem tratamentos químicos. Isto leva a que a planta fique com um nível microbiano mais elevado”, diz Eduardo Alves.
De acordo com o combinado com a empresa, os colaboradores irão trazer o material de manhã, ficando à espera que o processo termine, para então levar o produto de volta, já limpo de vírus e bactérias. “Se a empresa não se responsabilizasse pela segurança e fizéssemos armazenamento do produto, seríamos obrigados a reforçar a segurança do campus”, admite Eduardo Alves.
Na pandemia de Covid, o CTN também ganhou relevância ao fazer parte do consórcio de universidades portugueses responsáveis pela produção de um kit de diagnóstico da Covid-19, sendo aqui feita a esterilização das embalagens, antes de o kit seguir para os locais de teste.