A discussão na comunidade de geólogos já se arrasta há algum tempo, com uma corrente de defensores de que as terras mais a Norte em Marte têm lama no estado sólido. Agora, um grupo de investigadores da Academia de Ciências da República Checa concluiu que misturas de lama à superfície de Marte iriam escorrer como acontece com fluxos de lava em Terra, embora por razões geológicas diferentes, o que os faz admitir que existam reservatórios de água naquela região do planeta ‘vermelho’.
O desafio para os cientistas é perceber agora se as imagens que estão a ser enviadas pelas sondas na órbita de Marte estão a retratar fluxos de lava solidificada, resultante de erupções vulcânicas, ou se na verdade se trata de zonas com lama, também no estado sólido. Esta última hipótese, a confirmar-se, indicaria a existência de água.
A equipa liderada por Petr Brož recorreu a uma câmara da Universidade Aberta do Reino Unido, que replica as condições de pressão na superfície de Marte e conduziu várias experiências para concluir que é possível que a lama flua naquele planeta, à semelhança do que acontece em Terra, mas por razões diferentes. Num dos testes, a equipa arrefeceu um leito de areia e preparou um sistema para ‘injetar’ água e partículas sobre a réplica da superfície de Marte. Naquele ambiente, a lama acabou por ferver e, ao arrefecer, acabou por congelar a crosta. O interior líquido libertou-se aos poucos, formando pequenos caminhos à medida que ia descendo e acabando em formações que se assemelham ao que vemos nos vulcões do Havai, explica a Popular Science.
Petr Brož e os cientistas da equipa concluíram que é possível a existência de lama em Marte e que as formas que se assemelham a lava terrestre em Marte podem significar algo completamente diferente. Dorothy Oehler, do Instituto de Ciências Planetárias do Arizona, corrobora a descoberta e admite que este trabalho pode abrir uma nova linha de investigação, na medida em que aquilo que se acreditava ser lava em Marte pode, afinal, ter uma origem completamente diferente.
Um geólogo à superfície de Marte pode conseguir distinguir o que é rocha formada por lava daquilo que será lama solidificada, mas, no futuro próximo, não há a possibilidade de tal acontecer, pelo que os investigadores terão de se basear nas fotos enviadas pelas sondas.